Lo-fi girl
Mônica há muito tempo havia decidido que a forma com que vivia não fazia mais sentido dentro de si. não que houvesse alguma crítica específica à vida de boemia, mas começou a notar que quando se afundava nela, afundava-se também uma carência desenfreada por atenção de homens com caráter duvidoso. antes fosse só o caráter, mas homens emocionalmente instáveis ou que, com certeza, fariam de tudo pra dar a entender que a errada na história era ela. talvez às vezes fosse, mas o que a prejudicava era o ímã para esses caras, e disso ela estava cansada. também não foi o caso de deixar de visitar o Dirty Old Man, não era isso. a questão é que deixaria o cigarro de lado e os goles de cerveja não seriam mais para conduzir pro banco de trás de um carro qualquer. tudo seria na medida, de forma equilibrada, de forma que seu sono não fosse prejudicado e não houvesse nenhuma ressaca - tanto física quanto moral. Mônica decidiu aguar mais as plantas, organizar a estante de livros, tirar o pó do toca discos e guardar ordenadamente os vinis. decidiu que gostava mesmo de velas e de incensos, e não do cheiro do Marlboro. decidiu que usaria lençóis 400 fios e que suas toalhas seriam azul-turquesa. aos poucos foi trazendo sutileza pra sua rotina, ouvindo lo-fi girl no youtube e comendo abacaxi com canela. já não pensava tanto se o amor iria voltar a bater na sua porta, a questão é que, se viesse, ela queria que ele o encontrasse feliz e satisfeita com a vida que levava - coisa que os finais de semana intensos nos bares não a faziam sentir. ainda segue indo nos bares, principalmente com Thiago, seu colega de trabalho, que não ironicamente conseguia aliviar todo o peso da rotina. com ele, o trabalho tinha a capacidade de se tornar palco para piadas de cunho duvidoso e um espaço mais leve onde ela precisava passar algumas horas do seu dia. em dias de home office, dividiam cafés e experiências. em noites quentes, dividiam alguns goles e histórias do passado. Thiago tinha conseguido trazer Mônica para o presente novamente, onde compartilhavam reflexões e também histórias íntimas. de tudo o que é bonito na vida, Mônica estava aprendendo a olhar devagar, a sentir a brisa bater no rosto e a manter o coração aberto, coisa que a Mônica de dez anos atrás não conseguia, pois vivia presa no passado e agarrada sempre no pior dos cenários.

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