"É possível ver o amor com esperança?", perguntou-se ao se escorar na ponte de concreto elevada sobre a rua Vasco da Gama. Jogou os cabelos para trás, respirou fundo uma única vez e sentiu o quente do sol corar suas bochechas. Nesse mesmo instante uma brisa suave balançou os seus cabelos e Mônica sorriu, sentindo-se beijada pelo vento. Abriu os olhos e sob o céu avistou um avião - e foi aí que passou a listar os clichês dos seus dias. Toda vez que via um avião, lembrava-se de Nícolas - não foram poucos os momentos que enquanto estudava avistava um avião e se perguntava se alguém, naquele avião, estaria indo ao encontro de uma pessoa que simbolizasse um lar, ou que simbolizasse conforto, carinho, ou mesmo aventura. Lembrava-se sempre do frio na barriga, da antecipação de situações, de sentimentos e de falas - Mônica tinha o dom de criar situações e aventurar-se por elas de tal forma que não sabia mais distinguir o que era realidade do que era criação. Por tal motivo, enxergar um avião era sinônimo de saudade, assim como também o era passar pela sessão de laticínios no mercado. Tudo era motivo para recordar e rir.
Não muitos dias atrás Mônica estava em um restaurante quando o canto de seu olho identificou Nícolas, quando na verdade era somente alguém muito parecido com ele, e de repente sentiu suas mãos suarem. "Que clichê ver o rosto dele nas pessoas" - resmungou. Acreditava que isso era um sintoma claro do que se chama saudade - você começa a antecipar tanto a presença de certo alguém, que quando menos imagina a sua mente já está a criando, assim como Jesse enxergava sua avó já falecida no meio do arco-íris, em Antes do Amanhecer. A mente, integralmente conectada com o coração e com o mais profundo da alma, projeta aquela pessoa, inteirinha, na sua frente. E quando você olha pela segunda vez consegue entender que está começando a enlouquecer.
Minutos depois, outro avião passou. Mônica ficava atordoada pensando em quantas histórias cada avião carregava, pensava que se pudesse pararia um por um dos passageiros para perguntar se eles também ainda viam o amor com esperança.
Continuou a listar seus clichês: era a música nova que tinha agradado os ouvidos dele; era o olhar cansado buscando companhia para enfim dormir; era o cuidado em passar um café; era a piada sem graça que ganhava um beijo carinhoso como recompensa; era o brilho dos olhos ao falar de seu sonho; eram as mãos que lentamente percorriam o corpo de Mônica, com uma pressão que provocava, mas que ao mesmo tempo oferecia ternura; era o riso fácil; era o beijo inesperado no metrô - Nícolas estava em tudo, e Mônica tentava a todo tempo ir contra esses pensamentos que, de certa forma, davam ao seu amor esperança - "é possível ver esse amor com esperança?", geralmente respondia a si mesma que não, que ser sensível e acreditar demais poderia lhe custar noites mal dormidas ou poderiam lhe impedir de viver novas aventuras. Entretanto, naquele dia, e só naquele dia, Mônica decidiu sorrir para o sol e ver o amor com esperança, sentindo como se seu peito pudesse iluminar e aquecer tão forte quando o Astro-Rei. Desapegou-se da ideia de que o amor deveria se afastar do clichê - aceitou que as breves situações do dia a dia serviam para fazer com que as almas, mesmo distantes, pudessem se sentir próximas - a lembrança nas pequenas coisas era o consolo mais sutil que o amor poderia oferecer.
I feel too motionless to walk away
But I can't forget your fate
How I try to resist when you want it, makes us what we are
It's just that I've been waiting for your time
I feel too motionless to walk away

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