E se ele visse



E se ele se visse da mesma forma que eu o vejo? E se ele pudesse, ao menos por um instante, entender a beleza que meus olhos captam toda vez que ele, detalhadamente, fala dos tropeços e das vitórias de uma vida solitária em São Paulo. Se ele pudesse, por um momento, olhar para si através do reflexo do vidro do metrô; se visse seu olhar cansado, mas totalmente ofuscado pelo brilho intenso do seu olhar e da luz invisível que sua alma emana mesmo a longas distâncias. Se ele pudesse sentir o que meu corpo sente ao vê-lo chegar, se ele pudesse ouvir meu coração bater toda vez que algo de bom ocorre em sua vida. Se pudesse me ver vibrar, ver-me chorar, rir e pedir ao Universo que nosso próximo encontro aconteça logo.
Talvez se por um segundo ele pudesse se ver dormindo, se ele pudesse se ver com o olhar distante enquanto a gente desce mais uma escada rolante no metrô. Se pudesse notar o meu olhar que nunca cansa de analisar cada feição, cada reação - e que tenta agir do modo mais conveniente possível de acordo com o que suas expressões parecem querer comunicar. Se pudesse ver o seu sorriso ao acordar, se pudesse sentir o seu abraço quente no final de um dia corrido. Se pudesse sorrir como eu sorrio ao lembrar que a sua chegada foi inesperada, e que os nossos encontros fazem o meu corpo inteiro rir. Onde quer que a gente estivesse, estávamos sempre a sorrir, como se as nossas almas fizessem cócegas uma na outra e fosse difícil manter-se sério.
Se pudesse roubar os meus olhos e ver o que eles viram na primeira vez que o encontrei, se pudesse sentir o calor das suas mãos nas minhas no meio de um bar qualquer, depois de apenas sobrar silêncio - e entre silêncios, nossos olhos conversam e nossas bocas ansiavam por mais um beijo, como se só existisse conforto quando elas estivessem juntas.
Se pudesse ver o sorriso dos meus olhos ao vê-lo andando pelo campus da universidade, conduzindo ideias, pessoas e futuros. Levando adiante o seu sonho, o seu maior desejo, o seu propósito. Naquele instante que meus olhos fotografaram o seu caminhar, eu tive certeza de que tinha encontrado alguém que merecia muito mais do que esse mundo poderia oferecer. Se ele conseguisse entender que eu vi nele tantos sentimentos que mal soube nominar - vi paixão, vi carinho, vi necessidade de estar perto, de proteger, de oferecer um ombro amigo, de ser companhia nos dias cinzas - que são a maioria em São Paulo.
Se ele pudesse, eu tenho certeza que se olharia no espelho todo dia e sorriria. Que se permitiria viver um pouco mais as pequenas coisas do dia a dia, que saberia que nos dias em que tudo estivesse desabando, eu estaria, mesmo que de longe, torcendo para que fosse só um dia, um dia entre tantos outros que ele sorriria. Se ele pudesse, eu sei que viria; se ele pudesse, ah, se ele pudesse, eu sei que da forma que eu o enxergo também se enxergaria; e, a esse ponto, talvez até sobre mim escreveria.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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