Coragem

A mesma medida que usamos de coragem para viver um amor usamos para fugir dele.
Coragem para ficar é tão difícil quanto a coragem para ir embora, e sobre isso poucas pessoas falam. Chama muito mais a atenção falar sobre os amores que ficam, sobre a beleza de amar incondicionalmente, mas pouco se fala da coragem que é necessária para ir embora, para, mesmo acreditando no amor, desistir dele.
Acredito piamente que o ato de entregar-se, de se sujeitar a um amor considerado impossível, também é algo a ser louvado. "É coragem e medo, e não coragem ou medo". A partir do momento que assumimos para nós mesmo que estamos diante de alguém muito especial e simplesmente optamos por esquecer as consequências que o passar do tempo pode trazer, assumimos uma posição corajosa - posição essa que poucas pessoas têm a audácia de se sujeitar. Atirar-se, jogar-se, fechar os olhos para o destino e sorrindo beijar os lábios de quem gostamos, mesmo que depois de dois dias essa pessoa escolha não mais estar ali. A gente faz isso, e a gente faz isso sem nenhuma explicação científica, filosófica, religiosa ou qualquer coisa desse estilo - a gente, a bem da verdade, mal pensa quando toma alguma dessas atitudes impensadas. A gente apenas acredita, de uma forma inocente, que aquilo que bate a nossa porta naquele momento é o que precisa ser vivido, nem que depois o sofrimento prepondere. A gente aceita o sofrimento, a perda, a dor, para simplesmente poder ver mais uma vez aquele sorriso.
Eu sei, parece ridículo, mas pior que isso é atirar-se, jogar-se, ver-se diante da desistência.

Quantas pessoas falam da coragem de atravessar a rua quando o amor te chama? Quem é que fala sobre a dor de ver o teu sorriso preferido somente por fotos, porque a distância no momento que tu menos imaginava é palavra de ordem?
É preciso coragem para ver fotos antigas, sorrir ao lembrar de bons momentos e mesmo com tudo isso hesitar. Hesitar no "oi", hesitar no convite, na declaração de amor. Um amor que bate forte no peito e precisa ficar calado também dói. Dói porque requer coragem, requer coragem para finalmente entender que ainda há muito a se compreender e que de repente o distanciamento será a cura para o êxtase. O êxtase que o abraço daquela pessoa te traz, a presença dela e até mesmo seu jeito de andar com as mãos no bolso. Poucos falam da coragem em se afastar.

É preciso coragem para saber a hora de fechar a porta, e às vezes essa consciência chegará justamente no momento em que mais queríamos não precisar dela. No momento em que criamos coragem para viver, o mundo gira e nos diz que ainda há muito a aprender, e que talvez não vai ser com a pessoa que imaginamos.
Podemos espernear, chorar, gritar, qualquer coisa que seja, mas a coragem para se despedir sempre será mais dolorida do que a coragem de ficar.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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