Sentou na cama, soltou um suspiro e sentiu a dor de cabeça decorrente daquele vinho barato que resolveram comprar. Na sala, ainda tocava o disco do Beatles e ele havia esquecido sua touca chilena ao lado da cama.
Levantou-se e foi até a sala, parou em frente ao toca-discos que havia herdado de seu pai – depois de muita insistência – e ficou um tempo ouvindo a canção que dizia: “When I think of all the times I´ve tried so hard to leave her, she will turn to me and start to cry…”. Soltou um riso frouxo e retirou a agulha de cima do disco abruptamente, fez uma careta de desgosto e praticamente ouviu a voz de seu pai reclamando do seu mau jeito de lidar com coisas que precisam de cuidado. Caminhou até o tapete que estava todo desarrumado e achou um bilhete embaixo, que dizia: “Por favor, vamos deixar isso de lado.” Lembrou-se daquela vez em que ela quase foi capaz de atirar um abajur na cabeça dele ao ouvi-lo dizer que nunca precisava dela, mas que mesmo assim gostava de estar com ela. Pena que essa segunda frase ele demorou a dizer, foi o tempo de ele se abaixar e o abajur se estraçalhar na parede. Nunca combinaram com bebidas alcoólicas, pois algum dos dois sempre saía do controle.
Pegou o bilhete na mão direita, apoiando a mão esquerda na cintura como aquelas pessoas que analisam minuciosamente o que estão lendo e rezam para que aquilo não seja verdade. “De novo!”, pensou consigo mesma. Sentou no sofá da sala, apoiou os cotovelos no joelho e soltou um suspiro longo. Era definitivo: Tentaria deixá-lo ir, se era o que ele queria.
O que era estranho, era a forma com que ela precisava dele. Ao mesmo tempo em que tinha coragem suficiente para dizê-lo “então vá!”, sentia que não era o que seu coração pedia. Precisava de alguém como ele por perto, pra suportar as barras, para ouvir músicas boas ou quem sabe para pedir livros emprestados. Só não tinha certeza se o brilho no olhar que ele adquiria ao vê-la resumia-se em amor, ou paixão, ou carinho, ou amizade... Qualquer coisa que pudesse ser, sentia que não deveria ser um sentimento desperdiçado.
De qualquer forma, ela ainda esperaria o dia em que eles pudessem de novo viver sem se preocupar com o que poderá acontecer no dia seguinte. Esses dias eram os melhores, cantavam ao vento, olhavam-se nos olhos por horas se fosse necessário, e sabiam que no dia seguinte as coisas estariam simplesmente como deveriam ser.
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