Entrou no bar e logo escolheu uma mesa no canto - a psicologia explica que as pessoas que se dirigem a mesas nos cantos são mais retraídas em relação àquelas que sentam no centro, o que de certa forma fazia sentido porque Mônica se sentia exposta ao sentar no meio de bares e restaurantes, ainda mais sozinha. Ali tocava You're Gonna Lose That Girl, e Mônica a cada segundo confirmava que, realmente, aquele era o bar dela.
Pediu uma Seasons Green Cow e começou a olhar para os lados, naquele momento nem o celular lhe interessava mais, afinal havia deixado tudo para trás. O passado agora era apenas um "blur effect" em sua mente, pensava que quanto mais conseguisse evitar as redes sociais mais conseguiria viver o que a cidade grande poderia lhe oferecer. E foi em meio a essas divagações que seu olhar pousou no de Vicente, um cara visivelmente irreverente e galanteador. Por alguns segundos lembrou-se de Alex, talvez pela barba, pelos cabelos bagunçados e por aquela risada alta que poderia ser ouvida por todo o espaço em que ele estivesse inserido. Mônica encostou o queixo na mão e ficou o observando, rindo de si mesma por não conseguir fugir de seus padrões mais óbvios. Era claro que teria interesse em conhecer aquele cara, embora tivesse mais resistência do que nunca em achar caras-encrenca, principalmente em Porto Alegre.
Não muito tempo depois Vicente começou a notá-la, e em meio a risadas estridentes tomava um gole de cerveja e lançava olhares a Mônica, que também não fazia esforço nenhum em disfarçar. Ainda não muito tempo depois Vicente passou ao lado de sua mesa e por um segundo Mônica congelou, pensou "puta merda, agora esse cara vai sentar aqui!?"; mas ele passou, e passou mais uma vez, até que resolveu perguntar se poderia acompanhá-la nessa IPA que ela já estava no terceiro copo. Mônica, meio trêmula, disse que sim e ajeitou-se na cadeira, como que na ânsia em parecer tranquila com aquela situação.
_ E então, senhorita, o que a traz a esse bar hoje a noite? - disse. E antes mesmo de Mônica abrir a boca, emendou: Ah, e meu nome é Vicente, e o seu?
_ Ah, muito prazer, sou Mônica. Então, sou nova na cidade e pelo que pesquisei na internet não sei se há, no momento, bar que mais feche comigo nesse momento. Além disso, eu precisava ser recepcionada na capital por uma cerveja um pouco mais forte - riu.
Vicente riu e logo fechou a boca e ficou olhando-a profundamente nos olhos. Naqueles poucos segundos Mônica teve a impressão de conhecê-lo de outro lugar - e nesse ponto era diferente do que sentira com Alex, porque o olhar de Alex desde sempre parecia pesado e sombrio. Mas Vicente não, Vicente tinha olhos profundos mas que demonstravam que era um cara autêntico e quiçá romântico. Em resumo: uma baita de uma encrenca.
_ Muito bem, dona-moça. Já que és nova na capital, que tal me acompanhar e sentar-se junto com meus amigos, logo ali? Acho uma pena não poder ver esse sorriso em meio a todas as piadas sem graça que eles contam - disse Vicente.
Mônica assentiu e foram para a mesa do outro lado do bar. Vicente a apresentou e a fez sentar-se na sua frente, enquanto servia uma cerveja e a observava atentamente. Mônica mexia no cabelo, tomava um gole de cerveja, respirava fundo, ria, e Vicente disfarçava para tentar não parecer obcecado por cada ação daquela mulher que havia recém conhecido. Mônica, por sua vez, sentia-se quente e tímida, tinha quase certeza que seu colo e rosto estavam corados - não só pelo alcool até então ingerido. Talvez fosse a presença de Vicente, a forma com que batia os dedos em cima da mesa, em sintonia. "Deve ser baterista", pensou para si. Aos poucos os amigos de Vicente começaram a se despedir e os lugares em sua volta começavam a esvaziar. Era quase duas da manhã de uma sexta-feira e Mônica, mesmo cansada de ter trabalhado o dia inteiro, sentia-se mais viva do que nunca. Acredita-se
que o clima de paquera acelera o coração das pessoas e elas acabam descobrindo o tanto de energia que seus corpos podem produzir.
Duas-e-dezessete e, embora tinham mais outras duas mesas completas no bar, naquela ali estavam só Mônica e Vicente, um em frente ao outro, falando amenidades e discutindo sobre a violência da capital. Vicente contou que tinha o sonho de viajar o mundo mas que lhe faltava dinheiro, Mônica disse que compartilhava do sonho e logo lançou o interesse pela famosa Inglaterra; Vicente já tinha mais interesse na Índia ou qualquer outro país com uma economia emergente.
Em meio a sorrisos e segundos de olhos se beijando, Mônica disse que precisava ir embora. Vicente anotou seu número num guardanapo e pediu que Mônica o chamasse no domingo, pois ele conhecia um lugar espetacular que ela não poderia deixar de visitar.
Foram juntos para a frente do bar, Mônica apoiou a bolsa no ombro direito e soltou aquele "então tá". Vicente colocou sua mão direita no rosto de Mônica e deu um beijo demorado na bochecha esquerda. Naqueles poucos segundos Mônica sentiu-se como uma adolescente descobrindo o amor e possivelmente seu rosto ficou da cor da bandeira do Internacional. A única coisa que conseguiu fazer foi gaguejar um "o prazer foi meu" e ter a vontade súbita de agarrar aquele cara pelo pescoço, ali mesmo, e pedir pra dormir na sua casa. Mas controlou-se. Talvez dessa vez seria melhor.

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