Em meio à General

Mônica parou no meio de caminho, pôs as mãos no joelho e desatou a rir. Precisou de alguns minutos para se recuperar da gargalhada. Enquanto isso Vicente a olhava escorado com um braço numa árvore qualquer.
_ Sério, tu não existe Vicente - disse Mônica, recuperando o fôlego.
_ Tu acha engraçados os meus romances, mas quero te dizer que de comédia romântica eles nada têm, é algo mais estilo Crepúsculo, inclusive, com toda aquela história de falo-ou-não-falo, vivo-ou-morto e ser-vampiro-ou-não-ser - disse Vicente, dando de ombros.
_ Nessa de ser-vampiro-ou-não sei acredito que queiras dizer: será que mereço sugar o tempo dessa pessoa para depois dizer que, a bem da verdade, não sinto porra nenhuma?
_ Talvez seja isso. Mas veja, acho que tu não entendeu: não é que eu não sinta porra nenhuma, é mais algo no estilo "hoje eu curto, amanhã talvez eu não curta mais", entende?
_ O que é ainda pior, acredito. Não sei se as pessoas estão preparadas para dormir sem saber se o outro se sentirá da mesma forma na manhã seguinte, parafraseando Summer Finn.
_ Ah, ótimo, agora eu sou a Summer? - reclamou Vicente.
_ É o que te sobra, afinal tu nada tem a ver com um Tom Hansen, né - respondeu Mônica.
_ Certo, serei honesto comigo mesmo. Mas me fale um pouco de ti, oras, te conheci num bar qualquer que, por coincidência, virou o lugar mais frequentado por nós, e como uma ironia eu não consigo identificar quem é você nas relações - disse Vicente - antes disso, vamos conhecer esse bar aqui também, o que achas?
Ambos entraram num bar qualquer em meio à General Lima e Silva e pediram o de sempre: Weiss - só para "abrir os trabalhos".
Mônica sentou-se de frente para Vicente e naquele momento começou a perceber que talvez pudesse se perder em meio àquele cabelo bagunçado e aquela barba mal feita. Enquanto ele emendava algum assunto qualquer, flagrou-se cuidando seus trejeitos, a forma com que mexia as mãos e articulava cuidadosamente cada palavra. Lembrou-se que o que a fez estar ali até hoje foi aquele sorriso malicioso que percorreu o bar inteiro no dia em que se conheceram. Porém a promessa de que não apressaria as coisas estava a impedindo de dar um passo à frente. Tanto isso que tentava evitar olhares demorados e manifestações de interesse, embora seu corpo, sua mente e sua própria essência gritavam por isso.
_ Mas então, minha querida Mô, diga-me quem és - disse Vicente, batendo uma das suas mãos na mesa.
_ Sou a mulher que tu não vês - respondeu.
_ Oi? - perguntou Vicente, franzindo as sobrancelhas.
_ Vi essa frase colada na parede lá na José do Patrocínio esses dias, achei sugestiva - respondeu Mônica com certo humor.
_ Ah, muito bem, ela não significa nada então? - questionou Vicente com um sorriso de canto de boca.
_ Talvez seja aquela coisa: ninguém diz nada da boca pra fora - resmungou Mônica.
Naquele milésimo de segundo que separou a resposta de Mônica com a próxima pergunta, os dois ficaram se olhando por longos segundos e Mônica tinha certeza de que sua timidez estava agora estampada no seu rosto.
_ Qual o nosso lance, afinal, Mô?
Compartilhar Google Plus

Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

Postagens Relacionadas

0 comentários :

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial