_ O que foi, afinal? Até parece que tô sozinho nesse bar. Tem algo que tu queira me dizer?
Mônica olhou-o e respirou fundo.
_ Eu quis, Vicente. Eu quis te falar sobre o mundo, sobre como a história explicava a filosofia, a política, a psicologia, sei lá, qualquer coisa parecida que te fizesse sentir interesse. Não há algo mais bonito em ti do que o teu interesse. Acontece que ele é específico, e talvez seja um erro meu, talvez não, mas tem coisas que interessam a mim mas que não fazem ressonância nenhuma em ti. E não é por maldade, veja bem, acredito que é assim que tu é, exatamente. Acontece que aqui dentro de mim há anseios e coisas muito, mas muito fodidas, que
bagunçam com o meu dia. E é aí que eu coloco o que a gente tem - seja-lá-o-que-seja - em perspectiva e me pergunto o que significa, afinal, minha resistência em me abrir para ti. Falta de confiança, falta de autoconfiança? O que é, afinal? E quanto mais os dias passam o meu corpo pede por ti, embora meu coração se distancie por medo de se afundar sozinha, sabe como é?
_ Eu já te disse que você tira muitas conclusões sozinha - disse Vicente, desviando o olhar.
_ Então me mostre. Mostre-me que estou errada, porra. Pega na minha mão, aqui e agora, e me diz que eu não preciso sentir medo. Que o que é e o que está sendo é o agora. Simplesmente o agora. Esse teu silêncio é tão ridículo quanto o meu receio de seguir adiante.
Mais uma vez o silêncio.
Vicente pegou a mão de Mônica e, sem olhá-la nos olhos, começou a acariciá-la.
_ Eu sei que tem algo aí, dentro de ti, mesmo que mínimo, que quer me entender, que quer fazer parte do meu mundo. Sem medo. Mas eu acredito que, entre nós dois, quem mais tem medo aqui é tu. E eu acho que, de tudo, tem apenas uma coisa que está muito errada: tem coisas de mim que tu não conhece, e talvez porque, de alguma forma, eu não me sinto suficientemente segura para ser quem eu sou, na integralidade, contigo.

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