_ Isso aí. Tu sabe que é uma oportunidade profissional de ouro, eu não preciso nem te explicar, não é? - disse Vicente, olhando-a com os olhos semicerrados.
Mônica assentiu com a cabeça e foi até a cozinha. A força com que lavava as duas últimas xícaras que sobraram do café deixou claro que não estava conformada com a ideia de que Vicente logo partiria. Sabia que sua partida significava o fim de tudo, e não sabia dizer no que se reduziria aquele ano inteiro. No que se reduziria ter encontrado Vicente na mesa de um bar, exatamente no dia em que tinha prometido para si mesmo que não ia querer mais ninguém. Via-se novamente diante de uma situação que não queria ter de encarar de novo.
Vicente chegou até a cozinha e abraçou-a por trás dizendo:
_ Acredito muito que um dia a gente ainda vai se cruzar.
Essa frase cortou Mônica ao meio, "pô, não tivesse dito nada, né? pegasse suas camisetas amassadas e sua escova de dente e sumisse de uma vez", pensou.
Virou-se para Vicente e segurou seu rosto. Seus olhos não poderiam mentir: era apaixonada por Vicente. Não sabia de fato que proporções essa paixão tinha tomado, porém naquele momento não poderia se ver sem ele. Questionava-se como viveria na capital sem a sua companhia, sem os fins de semana trancados no quarto e sem alguém para dançar na ponta dos pés no meio da sala. Ao mesmo tempo, batia na sua porta a mesma indecisão de sempre: até que ponto valeria a pena ela dizer exatamente o que sentia? Ele iria embora de qualquer jeito, sem data marcada para voltar. Ela definitivamente não estaria animada com a ideia de esperá-lo, afinal, o sol continuaria a se pôr por ali, os ônibus continuariam a passar nas paradas, o pãozinho estaria quentinho todo dia. E enquanto isso? Como que se vive à espera de alguém?
A vida não estaciona para esperar o amor. No máximo dois minutos, e aí já cancela a corrida.
Mônica poderia fazer uma lista enorme de motivos para dizer o que sentia a Vicente, mas sabia que suas palavras em poucos dias seriam esquecidas ou mesmo deixadas no aeroporto. De nada valeria abrir o coração, falar sobre as suas expectativas em relação ao futuro com ele, se no fim das contas estaria sozinha nesse barco. "Eu tenho medo de estar remando sozinha", disse Mônica a Vicente uma vez. "Prometo que dessa vez você não está sozinha", ele respondeu; e olharam-se por horas, amaram-se por horas, viveram o que evitaram até o último minuto: um relacionamento.
_ Então a gente fica por aqui, meu bem - disse Mônica, olhando-o nos olhos e beijando-o suavemente.
Despediram-se na cama, porém a alma e o coração de Mônica não estavam mais ali.
Não haveria mais passeios no parque, a cor dos olhos de Vicente logo seria esquecida, os lençóis já não carregariam mais o seu suor, não haveriam mais garrafas de água espalhadas pelo quarto e muito menos abraços e carinhos quando a barra começasse a ficar pesada.
No fim das contas, Mônica saberia que era questão de um, dois meses, sabe-se lá quanto tempo para que a cidade ganhasse um novo significado. Amores são assim, mais ainda aqueles pequenos que cabem no bolso.
Vicente partiria, e sem muita demora Mônica já se arriscaria nas ruas pela cidade, guiada pelo acaso e disposta a sentir o gosto de cervejas mais fortes.
"And I told you to be patient
And I told you to be fine
And I told you to be balanced
And I told you to be kind
Now all your love is wasted?
Then who the hell was I?
Now I'm breaking at the bridgesAnd at the end of all your lines"
And I told you to be fine
And I told you to be balanced
And I told you to be kind
Now all your love is wasted?
Then who the hell was I?
Now I'm breaking at the bridgesAnd at the end of all your lines"

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