E eu, teimosa, ainda continuo viva. Apesar da morte de expectativas, de alguns sonhos, da força de vontade e também da pessoa mais importante pra mim - ainda assim decidi ter a teimosia de continuar viva. Ainda que por muitos momentos eu não quisesse, meu ato de protesto foi levar a cabeça e seguir adiante. Mesmo sangrando, mesmo dolorida, dilacerada e sem esperanças de novos dias de sol. Permaneci. Levantei de sei-lá-quantos-palmos do chão e fui viver. Quando eu me joguei novamente pra vida, ela se jogou pra mim de volta. Quando eu decidi que permaneceria viva, os pássaros começaram a cantar mais cedo, justamente pra acompanhar o meu levantar de insônia invertida. Quando eu decidi que permaneceria viva e afiei o meu olhar, pude observar que o sol é mesmo bonito e quente, e que a única certeza que tenho é que ele vai nascer no dia seguinte. Quando decidi que permaneceria viva e abri mesmo os meus olhos, notei que as flores carregam em si uma diversidade de cores e também imperfeições. Descobri que as pétalas das margaridas não são simétricas, e que as rochas e pedras possuem mais texturas que a gente possa imaginar. Quando eu decidi que permaneceria viva e me joguei na vida, notei que o fluxo da água é como o fluxo da vida: ora como correnteza, ora como água parada. Passei a observar que a natureza imita a vida e que, se eu permanecesse viva e atenta, teria muita vida ainda para ser contemplada. Quando eu decidi que permaneceria viva, desacelerei. Todos os dias eu aprendo um pouco mais sobre desacelerar - e vejo o quanto sempre fui acelerada. Notei que o café não fica pronto no meu tempo, e que se eu quiser que um cupcake fique sequinho e delicioso, eu vou precisar esperar o tempo dele. Notei que nas pequenas atividades a minha aceleração cortava a beleza do momento cotidiano. E talvez esse tenha sido um dos problemas desde sempre: eu achar que o bonito é somente o momento extraordinário. Isso foi até eu descobrir que a vida é feita de pequenos momentinhos, não gigantes, mas que a gente torna extraordinário assim como a cultura torna as pessoas quem são. Quem dá significado às coisas são as pessoas, e se eu decidir que é mesmo bonito e extraordinário acordar com calma e olhar pela janela, então está feito. Se eu decidir que quero meditar ao som dos pássaros e me concentrar em seus cantos, e chamar isso de extraordinário, então está feito.Quando eu decidi que permaneceria viva, deixei que a vida me propusesse suas belezas, me encantasse com seu vagar e me tornasse um pouco ela. Todos os dias eu luto para aprender com a dança daquilo que o Universo me oferece. Todos os dias, eu decido que permanecerei viva.

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