Sentia-se
como se não conseguiria mais corresponder às expectativas de Thomas, ou quiçá o
contrário, o que era puro egoísmo. Querendo ou não, João Pedro exercia uma
influência sem limites sobre a sua vida. Tudo o que fazia, o modo como
organizava sua rotina, o planejamento de suas aulas, as matérias mais
relevantes do jornal: tudo passava por João Pedro antes. Ele a abraçava, dizia
que não viveria sem o apoio dela – nesses momentos, que geralmente duravam
poucos segundos, Lívia fechava os olhos e desejava que ele terminasse a frase
com algo do estilo “preciso de você comigo” ou “preciso ficar com você”.
Qualquer coisa que a fizesse ficar, entende? Que a deixasse segura o suficiente
para saber que era ela quem ele procurava, no final das contas. Uma mulher
determinada, que o conhecia melhor que ninguém, ainda que se conhecessem a
menos de três anos.
O sorriso de João Pedro se confundia com as suas desculpas
esfarrapadas quando finalmente as coisas pareciam estar evoluindo. Ele era,
definitivamente, aquele cara que a convidava para jantar, tomava uma garrafa de
vinho, a deixava na frente do apartamento, dava um longo beijo no rosto e
desejava uma boa noite. Lívia, sem ação, nem reação, permanecia olhando-o como “o
cara de sua vida”, aquele que de um dia pro outro a reconheceria como “a melhor
das opções”, muito embora o ser humano fosse muito exigente por sempre exigir o melhor, e não aquilo que pode efetivamente dar certo – esse era o pensamento
de João Pedro.
Estes
pensamentos confundiam-se duas semanas antes de Lívia visitar sua família em
São Paulo. Passara uma semana inteira encontrando Thomas, tomando cafés, vendo
filmes, compartilhando segredos e sonhos. Thomas entregava-se de corpo e alma,
essa era a impressão que Lívia tinha de toda a situação. Contudo, no começo,
Lívia apaixonava-se pela forma de Thomas ver o mundo – talvez ainda muito
inocente. Thomas elogiava o seu sorriso, abraçava-a o tempo todo, como que em
um apelo para que ela nunca mais deixasse seu apartamento. Thomas era muito
romântico e encantador, e com certeza havia várias garotas que estavam a sua
procura, o que de certa forma acalmava Lívia, pois sabia que ela não seria a
mulher da vida dele.
_ Você é uma
encrenca, mulher – disse Thomas, mordendo uma maçã, no meio do parque, num dia
em que ela o convidou para fazer um piquenique no parque.
Lívia
deitou-se na grama (apoiada em uma toalha de mesa xadrez, claro) e encostou
suas duas mãos embaixo da cabeça.
_ Talvez eu
seja, mas agora que eu estou te conquistando, não vou dizer a verdade –
ironizou Lívia.
Thomas sorriu
e serviu um copo de suco de laranja enquanto a admirava. Lívia respirava fundo
e tentava tirar o rosto de João Pedro de sua cabeça, pois sabia que estaria
secretamente sendo injusta com Thomas que, diferente dele, estava ali.
Os dias arrastavam-se
até o dia que ela ia viajar. Perguntava-se a cada dia que passava até que ponto
estaria sendo sincera com os seus próprios sentimentos. Adorava a energia de
Thomas e tudo o que ele a fazia sentir, mas ao mesmo tempo não conseguia o
imaginar como um fiel companheiro, como alguém que pudesse a acompanhar
por-todo-o-mundo. Thomas era novo, isso era fato, e Lívia tinha receio de
acabar envolvendo-se profundamente com ele. Tudo isso para que depois chegasse
à conclusão que morreria por João Pedro. Não queria que o Thom “perdesse” tempo
com algo que não fosse concreto.
Entrou no seu
carro, pegou a estrada e deixou uma mensagem na caixa postal: “estou indo,
Thomas, quando voltar de São Paulo te dou notícias”.

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