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Alô? Thomas? E aí, cara! Vai lá no Amsterdam hoje? Vamos lá curtir um
roquezinho, cara, faz tempo que tu não sai com a gente – disse o colega de
Thomas, um tanto embriagado pra um começo de noite.
Thomas,
deitado em sua cama, apoiou o celular no ouvido e soltou um suspiro. Aquele
definitivamente não era um bom dia para sair de casa, há muito tempo não
conseguia se divertir com seus amigos, sua mente parecia preocupar-se demais
com a faculdade – o que não era ruim, mas acabava com seu ânimo.
_
Pois é, cara. Posso te avisar mais tarde? Acho que hoje vou enfiar a cara nos
livros, pra variar. – respondeu, torcendo para que o amigo não o chantageasse.
_
Ah, Grin, hoje é sábado. Aliás, cuida com essas paradas de estudar demais, dia
desses tu enlouquece. Sem falar que tu sabe como essa cidade vira do avesso
quando tem algum show de rock, dá pra encontrar umas gurias massas por lá
também – disse o amigo como que na tentativa de convencê-lo com a pior carta do
baralho: mulheres.
Trocou
mais algumas palavras com o colega e logo desligou - “esse cara vai insistir a
noite inteira”, pensou. Levantou-se e sentou na cama, olhando para o calendário
grudado na parede com um “x” em cada dia em que ele deixava o estudo de lado.
Olhou-o fixamente e pensou no quanto precisaria estudar em dobro se saísse
aquela noite. Ao mesmo tempo, estava sozinho em casa e seu pai havia comprado
algumas cervejas no mercado no dia anterior, na esperança de que Thomas “sairia
da toca” e fosse aproveitar um pouco o final de semana.
Beliscou
um queijo mussarela na geladeira e colocou uma cerveja no congelador. Enviou um
SMS pro amigo-insistente avisando que às 23h15 apareceria no Amsterdam – “agora
se foram os bois com as cordas, também...”, pensou e riu lembrando-se da
clássica frase de sua mãe. Duas horas
depois, vestiu-se sem muita pressa e decidiu ir à pé até o bar, afinal fazia
tempo que não bebia álcool e provavelmente a noite seria longa. Ao chegar no
famoso bar Amsterdam, seus amigos já estavam sentados em uma das mesas que
ficavam ao ar livre. Logo que avistaram Thomas, o grito foi uníssono, todos
surpresos com a vinda de “Grin”. Ele, já um pouco alterado, sentou-se com os
amigos e logo se enturmou. Comentaram um pouco sobre a dificuldade de estudar
durante as férias, sobre o azar de mais de um concurso serem realizados no
mesmo dia e coisas do tipo. Não podia reclamar dos seus amigos, afinal naquela
mesa de bar falavam sobre tudo, menos sobre o que realmente não o interessava,
como futebol ou vídeo-games.
Alguns
minutos depois, a banda da cidade foi anunciada e todos se dirigiram à frente
do palco. Thomas estava lá parado quando um dos seus colegas cochichou: “Ei, caras,
olhem a Sra. Gerstner lá”. Todos os rapazes viraram-se para o balcão do bar e
encontraram Lívia acompanhada de João Pedro e sua namorada. Thomas tinha sido
aluno de Lívia em uma matéria na universidade, e por incrível que pareça cada
vez que a via tinha vontade de agarrá-la. Lívia era inteligente, uma mulher que
sabidamente tinha conhecimento e falava com propriedade das coisas que
ensinava, sem falar que, além disso, tinha uma beleza inigualável. Era alta, magra
mas com curvas marcantes, seus cabelos eram negros, longos e ondulados nas
pontas, seus olhos eram profundos e castanhos-escuro. Perguntava-se até que ponto
aquela mulher o daria atenção, e de certa forma a segurança que ela
transpassava o assustava.
Enquanto todos os garotos
riam e faziam piadinhas um tanto inadequadas sobre a professora, Thomas a
encarava esperando que ela retribuísse o olhar. Foi quando empinava uma garrafa
longneck de Budweiser que teve a impressão de que ela o fitava. Segundos
depois, virou sua cabeça em direção a ela e tentou não sorrir – “hum, uísque na
mão, acompanhada de um cara que está acompanhado, muito bem, olá, Sra.
Gerstner, que tal uma conversa?”, pensou. Lívia parecia ter corado devido aos
longos segundos em que ficaram trocando olhares.
Thomas a olhava dos pés à
cabeça discretamente, seu corpo tremia pensando na possibilidade de trocar
algumas palavras com aquela mulher. Enquanto divagava sobre tudo isso, João
Pedro e sua acompanhante despediram-se de Lívia e foram embora. “É agora”,
pensou. Esperou mais alguns minutos, respirou fundo e foi em direção à Lívia,
que nesse momento chamava o garçom e pedia mais um uísque cowboy – pelo menos
foi isso que conseguiu pescar da conversa: “sem gelo, por favor...”. Parou na
frente de Lívia, abriu um sorriso tímido e disse:
_ Oi,
Sra. Gerstner – com uma breve pausa entre a intervenção e o sobrenome da
professora.
_ Ah,
olá. Pelo visto você me conhece – respondeu Lívia, parecendo apavorada, pois
não conseguia afastar o copo da boca.
_ Claro,
fui seu aluno na universidade em Teoria Geral do Estado, semestre passado – disse
ele, entonando sua fala como se aquilo fosse uma pergunta.
Lívia
ficou o observando por alguns segundos, sorriu e balançou a cabeça
afirmativamente. Thomas, mais feliz do que nervoso, olhou em direção para o
palco, onde todos os seus amigos cochichavam, voltou seu olhar para Lívia e
disse:
_ Posso
me sentar contigo?
_ Claro,
e qual o seu nome?
_ Thomas.
Thomas Grin. É um prazer conhecê-la. - ele estendeu a mão e abriu um
sorriso.
_ Muito
bem, Thomas, é um prazer conhecê-lo também, muito embora provavelmente eu tenha
te passado na matéria e agora não me recordo de ti. – disse Lívia, um pouco sem
jeito.
_ Sem
problemas, Sra. Gerstner, eu não sou o único aluno da universidade – disse ele,
enquanto seu sorriso apontava apenas no canto da boca.
Lívia
sorriu e apontou para o banco, convidando-o para sentar. Thomas sentou-se e
pediu mais uma longneck para o garçom que trazia o uísque de Lívia.
_ Ouvi
por aí que a senhora passou no concurso para promotor de justiça, é verdade?
_ Bom,
antes de tudo, por favor não me chame de senhora, meu nome é Lívia justamente
para que as pessoas se divirtam me chamando pelo meu nome – riu – e sim, estou
esperando a nomeação.
_ Legal,
legal. Mas você não é daqui, correto? – questionou Thomas.
_ Não,
não sou. Tenho esperanças de que eu seja nomeada na minha cidade, até porque
(...) – de repente Thomas desviou sua atenção para a boca de Lívia, que com os
seus lábios róseos e visivelmente macios proferia cada palavra delicadamente,
com um sotaque que até então ele não tinha percebido. Perdeu-se na forma como
ela mexia as mãos e inclinava a cabeça para a direita ao terminar cada frase.
Caiu em si quando ouviu Lívia perguntar: _ Mas e você? Que idade tens, afinal?
_ Ah,
tenho 20. – respondeu Thomas, parecendo mais desapontado do que ela.
Lívia
soltou um suspiro e afastou o copo vazio. Thomas fez a mesma pergunta, Lívia
respondeu que neste ano completaria 28. Olharam-se por mais alguns segundos, Thomas
analisou meticulosamente as feições de Lívia e a disse o quão bonita e
inteligente ela era. Lívia sorriu, “você também é muito atraente, Sr. Grin”,
disse, soltando um riso nervoso.
Thomas,
por uma fração de segundos, lembrou-se de como as mulheres inteligentes o
atraíam, mais do que qualquer corpo cheio de curvas e rosto angelical. Lívia o
encantava pela sua personalidade, sua determinação e porque ele sabia que ao
estar do lado dela, não estaria para brincadeira. O frio na barriga o deu mais
coragem de seguir em frente, de chegar perto do rosto daquela mulher e
suavemente afastar uma mecha de cabelo que atravessava o seu rosto. Levantou-se
da cadeira e pegou a mão da Lívia para que ela ficasse na frente dele, pegou-a
pela cintura e beijou-a nos lábios, enquanto os braços dela fechavam-se em
volta de seu pescoço. Com as duas mãos, apertava-a contra si e suas mãos
deslizavam nas costas de Lívia. Entre as pausas dos beijos, olhavam-se
profundamente nos olhos, Lívia mordendo os lábios e balançando a cintura ao som
de The Doors. Thomas sentiu que não conseguiria largar daquela mulher tão cedo,
muito embora soubesse que estava se arriscando demais ao pensar que aquilo
passaria daquela noite.

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