POR UM FIO, UM QUASE AMOR - EPISÓDIO 2

_ Alô? Thomas? E aí, cara! Vai lá no Amsterdam hoje? Vamos lá curtir um roquezinho, cara, faz tempo que tu não sai com a gente – disse o colega de Thomas, um tanto embriagado pra um começo de noite.
Thomas, deitado em sua cama, apoiou o celular no ouvido e soltou um suspiro. Aquele definitivamente não era um bom dia para sair de casa, há muito tempo não conseguia se divertir com seus amigos, sua mente parecia preocupar-se demais com a faculdade – o que não era ruim, mas acabava com seu ânimo.
_ Pois é, cara. Posso te avisar mais tarde? Acho que hoje vou enfiar a cara nos livros, pra variar. – respondeu, torcendo para que o amigo não o chantageasse.
_ Ah, Grin, hoje é sábado. Aliás, cuida com essas paradas de estudar demais, dia desses tu enlouquece. Sem falar que tu sabe como essa cidade vira do avesso quando tem algum show de rock, dá pra encontrar umas gurias massas por lá também – disse o amigo como que na tentativa de convencê-lo com a pior carta do baralho: mulheres.
Trocou mais algumas palavras com o colega e logo desligou - “esse cara vai insistir a noite inteira”, pensou. Levantou-se e sentou na cama, olhando para o calendário grudado na parede com um “x” em cada dia em que ele deixava o estudo de lado. Olhou-o fixamente e pensou no quanto precisaria estudar em dobro se saísse aquela noite. Ao mesmo tempo, estava sozinho em casa e seu pai havia comprado algumas cervejas no mercado no dia anterior, na esperança de que Thomas “sairia da toca” e fosse aproveitar um pouco o final de semana.
Beliscou um queijo mussarela na geladeira e colocou uma cerveja no congelador. Enviou um SMS pro amigo-insistente avisando que às 23h15 apareceria no Amsterdam – “agora se foram os bois com as cordas, também...”, pensou e riu lembrando-se da clássica frase de sua mãe.  Duas horas depois, vestiu-se sem muita pressa e decidiu ir à pé até o bar, afinal fazia tempo que não bebia álcool e provavelmente a noite seria longa. Ao chegar no famoso bar Amsterdam, seus amigos já estavam sentados em uma das mesas que ficavam ao ar livre. Logo que avistaram Thomas, o grito foi uníssono, todos surpresos com a vinda de “Grin”. Ele, já um pouco alterado, sentou-se com os amigos e logo se enturmou. Comentaram um pouco sobre a dificuldade de estudar durante as férias, sobre o azar de mais de um concurso serem realizados no mesmo dia e coisas do tipo. Não podia reclamar dos seus amigos, afinal naquela mesa de bar falavam sobre tudo, menos sobre o que realmente não o interessava, como futebol ou vídeo-games.
Alguns minutos depois, a banda da cidade foi anunciada e todos se dirigiram à frente do palco. Thomas estava lá parado quando um dos seus colegas cochichou: “Ei, caras, olhem a Sra. Gerstner lá”. Todos os rapazes viraram-se para o balcão do bar e encontraram Lívia acompanhada de João Pedro e sua namorada. Thomas tinha sido aluno de Lívia em uma matéria na universidade, e por incrível que pareça cada vez que a via tinha vontade de agarrá-la. Lívia era inteligente, uma mulher que sabidamente tinha conhecimento e falava com propriedade das coisas que ensinava, sem falar que, além disso, tinha uma beleza inigualável. Era alta, magra mas com curvas marcantes, seus cabelos eram negros, longos e ondulados nas pontas, seus olhos eram profundos e castanhos-escuro. Perguntava-se até que ponto aquela mulher o daria atenção, e de certa forma a segurança que ela transpassava o assustava.
Enquanto todos os garotos riam e faziam piadinhas um tanto inadequadas sobre a professora, Thomas a encarava esperando que ela retribuísse o olhar. Foi quando empinava uma garrafa longneck de Budweiser que teve a impressão de que ela o fitava. Segundos depois, virou sua cabeça em direção a ela e tentou não sorrir – “hum, uísque na mão, acompanhada de um cara que está acompanhado, muito bem, olá, Sra. Gerstner, que tal uma conversa?”, pensou. Lívia parecia ter corado devido aos longos segundos em que ficaram trocando olhares.
Thomas a olhava dos pés à cabeça discretamente, seu corpo tremia pensando na possibilidade de trocar algumas palavras com aquela mulher. Enquanto divagava sobre tudo isso, João Pedro e sua acompanhante despediram-se de Lívia e foram embora. “É agora”, pensou. Esperou mais alguns minutos, respirou fundo e foi em direção à Lívia, que nesse momento chamava o garçom e pedia mais um uísque cowboy – pelo menos foi isso que conseguiu pescar da conversa: “sem gelo, por favor...”. Parou na frente de Lívia, abriu um sorriso tímido e disse:
_ Oi, Sra. Gerstner – com uma breve pausa entre a intervenção e o sobrenome da professora.
_ Ah, olá. Pelo visto você me conhece – respondeu Lívia, parecendo apavorada, pois não conseguia afastar o copo da boca.
_ Claro, fui seu aluno na universidade em Teoria Geral do Estado, semestre passado – disse ele, entonando sua fala como se aquilo fosse uma pergunta.
Lívia ficou o observando por alguns segundos, sorriu e balançou a cabeça afirmativamente. Thomas, mais feliz do que nervoso, olhou em direção para o palco, onde todos os seus amigos cochichavam, voltou seu olhar para Lívia e disse:
_ Posso me sentar contigo?
_ Claro, e qual o seu nome?
_ Thomas. Thomas Grin. É um prazer conhecê-la. -  ele estendeu a mão e abriu um sorriso.
_ Muito bem, Thomas, é um prazer conhecê-lo também, muito embora provavelmente eu tenha te passado na matéria e agora não me recordo de ti. – disse Lívia, um pouco sem jeito.
_ Sem problemas, Sra. Gerstner, eu não sou o único aluno da universidade – disse ele, enquanto seu sorriso apontava apenas no canto da boca.
Lívia sorriu e apontou para o banco, convidando-o para sentar. Thomas sentou-se e pediu mais uma longneck para o garçom que trazia o uísque de Lívia.
_ Ouvi por aí que a senhora passou no concurso para promotor de justiça, é verdade?
_ Bom, antes de tudo, por favor não me chame de senhora, meu nome é Lívia justamente para que as pessoas se divirtam me chamando pelo meu nome – riu – e sim, estou esperando a nomeação.
_ Legal, legal. Mas você não é daqui, correto? – questionou Thomas.
_ Não, não sou. Tenho esperanças de que eu seja nomeada na minha cidade, até porque (...) – de repente Thomas desviou sua atenção para a boca de Lívia, que com os seus lábios róseos e visivelmente macios proferia cada palavra delicadamente, com um sotaque que até então ele não tinha percebido. Perdeu-se na forma como ela mexia as mãos e inclinava a cabeça para a direita ao terminar cada frase. Caiu em si quando ouviu Lívia perguntar: _ Mas e você? Que idade tens, afinal?
_ Ah, tenho 20. – respondeu Thomas, parecendo mais desapontado do que ela.
Lívia soltou um suspiro e afastou o copo vazio. Thomas fez a mesma pergunta, Lívia respondeu que neste ano completaria 28. Olharam-se por mais alguns segundos, Thomas analisou meticulosamente as feições de Lívia e a disse o quão bonita e inteligente ela era. Lívia sorriu, “você também é muito atraente, Sr. Grin”, disse, soltando um riso nervoso.

Thomas, por uma fração de segundos, lembrou-se de como as mulheres inteligentes o atraíam, mais do que qualquer corpo cheio de curvas e rosto angelical. Lívia o encantava pela sua personalidade, sua determinação e porque ele sabia que ao estar do lado dela, não estaria para brincadeira. O frio na barriga o deu mais coragem de seguir em frente, de chegar perto do rosto daquela mulher e suavemente afastar uma mecha de cabelo que atravessava o seu rosto. Levantou-se da cadeira e pegou a mão da Lívia para que ela ficasse na frente dele, pegou-a pela cintura e beijou-a nos lábios, enquanto os braços dela fechavam-se em volta de seu pescoço. Com as duas mãos, apertava-a contra si e suas mãos deslizavam nas costas de Lívia. Entre as pausas dos beijos, olhavam-se profundamente nos olhos, Lívia mordendo os lábios e balançando a cintura ao som de The Doors. Thomas sentiu que não conseguiria largar daquela mulher tão cedo, muito embora soubesse que estava se arriscando demais ao pensar que aquilo passaria daquela noite.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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