Parou no primeiro boteco de esquina que encontrou, já não
lembrava mais o nome das ruas e muito menos onde estava, o álcool já começava a
fazer efeito em seu corpo e o cigarro havia terminado. Paciência. Sentia seu
corpo se arrepiar dos pés à cabeça e o frio começou a congelar os dedos de sua
mão. A chuva parecia aumentar cada vez mais e a noite caía tão rapidamente que
Mônica já nem se lembrava há quanto tempo estava caminhando – já não sabia nem
por que estava caminhando para aqueles lados. Andou mais duas quadras, tentando
a todo custo acender um cigarro. O guarda-chuva era minúsculo e o vento soprava
forte. “Porcaria!”, gritou. Parou no meio da calçada e ficou lutando com o
isqueiro. Quando finalmente conseguiu acender “aquela porcaria”, olhou para os
lados e o quarteirão lhe pareceu familiar. Até demais. Era a rua de Rafael.
Deu um giro e olhou para cima na tentativa de encontra-lo na
janela do sobrado marrom. Dito-e-feito. Lá estava Rafael quase virando do
avesso em risadas ao ver Mônica como um cachorro molhado, às 22h27, em uma rua
deserta e mal iluminada, tentando sobreviver ao maldito vício do cigarro. “Ah,
muito engraçado mesmo, tens razão”, gritou. Rafael desceu as escadas correndo e
abriu a porta do prédio. Tinha aquele mesmo sorriso, um tanto irônico mas
também muito misterioso. De fato, Mônica arriscava dizer que em nenhum momento
da vida compreendeu totalmente o que sentira por Rafael e, de certa forma,
nunca pensou demais sobre isso. “Tem coisas que é melhor a gente nem pensar
demais”, pensou.
_ O que tu faz por aqui uma hora dessas, mulher? Vamos subir
– disse ele, já antecipando seus passos. Mônica o interrompeu com três nãos e
disse que não poderia ficar. Rafael a olhou por três segundos e questionou o
porquê.
_ Rafael, eu acho melhor não. Eu preciso ir embora – disse,
meio que atropelando as palavras.
_ Ah, deixa de bobeira – ele retrucou. Com o silêncio de
Mônica, acrescentou – muito bem, eu vou ficar por aqui mesmo então. Rafael fechou a porta e cruzou os braços,
olhando para os dois lados da rua e soltando um suspiro.
_Olha, eu não vim aqui para te incomodar, juro.
_ Paciência. Tua paciência sempre incomoda – disse Rafael,
inicialmente sério mas esboçando um sorriso na medida que terminava a frase.
_ Inevitável, inevitável – disse Mônica, aproximando-se de
Rafael.
Mônica olhou-o nos olhos, chegou perto de seu rosto e lhe deu
um beijo demorado na bochecha direita. Rafael olhou-a por alguns segundos e
sorriu.
_ Sinto tua falta, guria. – disse Rafael.
Mônica sentia falta daquilo que não foi, ou daquilo que
deveria ter sido. Das palavras não ditas, do beijo que deixou de ser roubado.
Porém, tinha para si que as coisas são assim mesmo: idas e vindas. E com ele
não seria diferente.
Rafael desceu um degrau, ficou embaixo do guarda-chuva com
Mônica enquanto a chuva testemunhava, incessante, aqueles dois amigos. Ele
colocou sua mão no rosto dela e deu-lhe um beijo na bochecha, escorregando até
a boca, onde selou os lábios de Mônica com os seus. Mônica colocou a mão em seu peito e o
afastou. Após, abraçou-o fortemente.
_ Eu preciso ir. Cuide-se – disse quase sussurrando.
Rafael soltou-a e respirou fundo.
_ Tudo bem. Apareça. Parece que tu ainda sabe onde eu moro –
disse, irônico.

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