Tão logo o sol ameaçava nascer, Santiago repetia que precisava ir embora, e Mônica, ao final, sempre deixava, mesmo que fechasse a cara e voltasse a vê-lo meses depois. Gostava disso. Naquela época, já achava engraçada a situação, já não fazia grande caso de vê-lo. "Algumas coisas mudaram por aqui...", dizia a ele.
Depois que Santiago deixou o bar, Mônica juntou-se aos ditos "sóbrios" e deveras teimosos. "Mô, eu to é ótimo!", gritava Vinícius, enquanto balançava seu copo e respingava cachaça na roupa de Mônica. "Ah, sim, estou vendo. Estou sentido o cheiro, também", resmungava enquanto os dois pareciam nunca parar de rir.
Geovane, entre uma tragada e outra, olhou para Mônica e disse:
_ Olha só, Mô, eu acho que o Vinicius tá nos escondendo alguma coisa. Veio com uns papos relacionados a amor, a envolver-se com alguém e esse papo fodido pra caralho. Não sei o que esse cara tem - este último verbo confundiu-se com um soluço, mas Mônica entendeu.
_ Ora, ora, que notícia boa. Alguém nessa roda tem que se dar bem mesmo, né - respondeu desinteressadamente.
_ Eu tô falando sério, Mô, olha a cara dele - Geovane tornou-se sério e apontou para Vinicius, que durante aquela conversa estava voltando cambaleante do balcão principal.
_ Do que você tá falando, cara? - questionou Mônica, já sussurando.
_ Eu não sei. Acho que durante esse tempo que o Vini estava longe, muita coisa aconteceu. Talvez por isso ele esteja tentando bancar o mesmo cara de antigamente, justamente porque sente falta, ou porque quer mostrar para nós que as coisas não mudaram.
Os dois olhavam pensativos para Vinicius, que olhava atentamente para os quadros do Pink Floyd espalhados pelo bar enquanto tentava manter-se em pé.

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