Joguei sobre você tantos medos (...)

"Precisei me despir, desde o início, de qualquer parcela ou pedaço de orgulho para que chegasse na tua frente e dissesse que não poderíamos ir adiante. Retirei-me da sala quando teus discos já ameaçavam esgotar todas as minhas possibilidades de gostar de outro estilo musical. Quis - e muito - e posso dizer que tentei impedir meus impulsos de tomarem frente à razão. Empurrei a culpa para debaixo do tapete, abracei o acaso e acabamos os dois deitados na mesma cama imbuídos no desejo.
Deixei a porta aberta e você ficou no meio dela, com um pé dentro do meu quarto e outro fora do meu mundo. Você, no fim de tudo, sempre ficou no meio-fio, mais do que eu, diga-se de passagem.
Inconformado, você chutou a parede e levou consigo os teus discos quando eu disse que não queria mais ver a cor dos teus olhos no breu da porta de entrada do meu apartamento. Sentiu-se esquecido quando na minha agenda o teu nome não era mais o primeiro da lista. Ah, Santiago, eu soube bem desde o início que o fim era um erro, talvez maior do que o começo.
Você deixou suas camisetas amarrotadas no sofá da sala e fios de cabelo no meu travesseiro. Tudo isso para no dia seguinte resolver de uma vez por todas o que sempre sentiu: medo. Medo de descobrir-se e ver o quanto viver em uma mentira é desgastante. E foi no dia em que você resolveu ameaçar minha coragem e colocar os dois pés para fora do meu mundo, que eu simplesmente te olhei fundo nos olhos e deixei que tu fizesse o que bem entendesse. Sem culpa, sem ressentimentos, sem saudade e muito menos qualquer resquício de quase-amor..."
_ Tu quer mesmo me ver indo embora? Então não demore um segundo para tirar os pés do meu apartamento - gritou Mônica, colérica.
Fosse amor, fosse paixão ou qualquer coisa definível - mas não era nada. Abismada, Mônica não conseguiria nem mesmo definir o que a fazia insistir no que nunca teve início. "Talvez tu seja um pouco carente", insistia Geovane. Do que Mônica não discordava mas, acostumada com ter tudo perfeitamente definido, sentia que algo tinha mudado. "Ando meio desacreditada das pessoas e de suas intenções", retrucava.
Como eterna apaixonada que era, sentir apenas desejos carnais por alguém e tentar - mais do que tudo - afastar qualquer demonstração de afeto a tornava cada vez mais fria. Mônica não era assim, ou, ao fim de tudo, era, mas tentava mascarar. Não sabia definir.
As comédias românticas tornavam-se cada vez mais engraçadas do que bonitas, até que o único filme que poderia fazer sentido era Eternal Sunshine of The Spotless Mind. As flores, músicas pops e um pouco de Taylor Swift começaram a dar ânsia. "É como diria Caio Fernando: eu tive tanto amor um dia", conformava-se Mônica ao lembrar do seu passado amoroso. Era compreensível que esse dia ia chegar, o que poucas coisas parecem ser reais e bonitas, e verdadeiras e românticas [...]

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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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