De repente, Vinicius encheu um pouco mais de uísque no copo de plástico mordido nas bordas e sentou-se no chão, olhando fixamente para Mônica.
_ O que foi, Vini? - disse Mônica, fitando a janela e encostando seu braço embaixo da cabeça.
_ Cara, tu não muda mesmo, não é? Vou ter que te ensinar a se afastar desse tipo de cara, mais uma vez. Tu cai numas mentiras muito manjadas. Vamos parar por aí, poxa. Agora coloca um sorriso nesse rosto teimoso e escuta um The Doors, na boa. Não vim pra essa cidade melequenta pra te ver encher a cara sem dar uns gritos e rir até cair. Obrigada.
_ Obrigada, Vinicius. Isso me fez eu sentir muito melhor.
_ Não, sério... Diga-me pelo menos três motivos que me convençam que eu não estou certo.
_ Nunca te disse que tu tá errado. Acontece que tu não sabe de metade da história.
_ Ei, vocês querem falar sobre isso agora? - questionou Geovane -, segundos após, os dois olharam para ele, entendendo que era uma pergunta retórica. - Pois bem, que assim seja. Olha só Mô, eu mais do que ninguém sei bem o que tu tá passando, não é? Por tais motivos eu só posso te dizer uma coisa: não tem mais o que tu fazer. Ouso dizer, até, que tu já fez demais.
_ Eu sei, porra. Eu sei disso. - esperneou Mônica, levando as duas mãos ao rosto.
_ Se bem sabe então por que insiste? - retrucou Vinicius.
_ Porque às vezes eu tenho a impressão que eu preciso de uma encrenca pra me sentir viva. Dessas "brabas" mesmo. De resto, não sei explicar.
Geovane e Vinicius riram.
_ Vamos terminar esse uísque e dar uma volta por aí, como nos velhos tempos. Só que eu garanto que dessa vez não seremos pegos, pelo menos não da mesma forma que fomos em 1997. - garantiu Geovane, enquanto dançava com os pés e cabelos.
Mônica levantou-se, jogou o cabelo para trás e aceitou o desafio, dando a mão para Vinicius e insinuando alguns segundos de dança. Geovane também levantou-se e desligou a vitrola de Mônica.
Quando dobravam a esquina, Mônica deu de cara com Santiago, andando rápido e com a cabeça baixa. Fechou os olhos e respirou profundamente. "Mas era a última coisa que eu precisava hoje", pensou. Geovane a cutucou e cochichou no ouvido de Vinicius, que subitamente gritou "tá brincando?!". Supôs, naquele momento, que o linguarudo do Geovane tinha contado a Vinicius quem era Santiago.
Segundos antes de Santiago notá-la, Mônica segurou com mais força a garrafa de uísque e fez questão de acender um cigarro a mais e pedir que Geovane e Vinicius se afastassem.
Ficou um pouco atrás deles, esperando ansiosamente pela chegada de Santiago, que esboçava um sorriso canalha-convincente há metros de distância.
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