CAPÍTULO III - 04h51 (Mônica)

Entraram os três no apartamento de Mônica, o qual, diga-se de passagem, beirada o caos. Dava a impressão de que Mônica precisava organizar suas ideias, suas prioridades, ou melhor, sua vida. Vinicius saltou pra dentro e foi direto na estante rústica, a qual continha alguns discos raros que chamariam a atenção de qualquer roqueiro que se preze. "Aí que eu me refiro, porra!", gritou, enquanto colocava Morrison Hotel, do The Doors, para tocar a todo volume. Começou a dançar ridiculamente enquanto Mônica abria a janela da sala e se atirava no sofá, bebendo uísque em um como de plástico e segurando um cigarro entre os dedos. Geovane balançava a cabeça e tentava achar alguma palavra que confortasse Mônica diante de toda aquela situação, mas parece que nem o mais lindo dos dias conseguiria tirar a raiva que ela sentia naquele momento, nem mesmo Vinicius enlouquecendo da sala conseguiu arrancar um sorriso daquela mulher marrenta.
De repente, Vinicius encheu um pouco mais de uísque no copo de plástico mordido nas bordas e sentou-se no chão, olhando fixamente para Mônica.
_ O que foi, Vini? - disse Mônica, fitando a janela e encostando seu braço embaixo da cabeça.
_ Cara, tu não muda mesmo, não é? Vou ter que te ensinar a se afastar desse tipo de cara, mais uma vez. Tu cai numas mentiras muito manjadas. Vamos parar por aí, poxa. Agora coloca um sorriso nesse rosto teimoso e escuta um The Doors, na boa. Não vim pra essa cidade melequenta pra te ver encher a cara sem dar uns gritos e rir até cair. Obrigada.
_ Obrigada, Vinicius. Isso me fez eu sentir muito melhor.
_ Não, sério... Diga-me pelo menos três motivos que me convençam que eu não estou certo.
_ Nunca te disse que tu tá errado. Acontece que tu não sabe de metade da história.
_ Ei, vocês querem falar sobre isso agora? - questionou Geovane -, segundos após, os dois olharam para ele, entendendo que era uma pergunta retórica. - Pois bem, que assim seja. Olha só Mô, eu mais do que ninguém sei bem o que tu tá passando, não é? Por tais motivos eu só posso te dizer uma coisa: não tem mais o que tu fazer. Ouso dizer, até, que tu já fez demais.
_ Eu sei, porra. Eu sei disso. - esperneou Mônica, levando as duas mãos ao rosto.
_ Se bem sabe então por que insiste? - retrucou Vinicius.
_ Porque às vezes eu tenho a impressão que eu preciso de uma encrenca pra me sentir viva. Dessas "brabas" mesmo. De resto, não sei explicar.
Geovane e Vinicius riram.
_ Vamos terminar esse uísque e dar uma volta por aí, como nos velhos tempos. Só que eu garanto que dessa vez não seremos pegos, pelo menos não da mesma forma que fomos em 1997. - garantiu Geovane, enquanto dançava com os pés e cabelos.
Mônica levantou-se, jogou o cabelo para trás e aceitou o desafio, dando a mão para Vinicius e insinuando alguns segundos de dança. Geovane também levantou-se e desligou a vitrola de Mônica.

Quando dobravam a esquina, Mônica deu de cara com Santiago, andando rápido e com a cabeça baixa. Fechou os olhos e respirou profundamente. "Mas era a última coisa que eu precisava hoje", pensou. Geovane a cutucou e cochichou no ouvido de Vinicius, que subitamente gritou "tá brincando?!". Supôs, naquele momento, que o linguarudo do Geovane tinha contado a Vinicius quem era Santiago.
Segundos antes de Santiago notá-la, Mônica segurou com mais força a garrafa de uísque e fez questão de acender um cigarro a mais e pedir que Geovane e Vinicius se afastassem.
Ficou um pouco atrás deles, esperando ansiosamente pela chegada de Santiago, que esboçava um sorriso canalha-convincente há metros de distância.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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