CAPÍTULO II - Início da madrugada (Vinicius)
Assim que o ônibus cruzou a saída da cidade, pensou: Será que deveria fazer
isso mesmo? Afinal, já tinha se passado três anos e talvez agora aquelas
pessoas fossem como estranhos pra ele. Ou ele fosse um estranho para elas.
Seria como antigamente? Teriam bons assuntos para conversar? E enquanto
pensava adormeceu. Acordou com um cutucão do motorista. – Chegamos!
Pegou suas coisas e desceu. Que dor nas costas! Pensou. Já não era mais
aquele guri. E embora os anos tivessem passado, se negava a aceitar o
envelhecimento. Queria permanecer sempre jovem, ao menos mentalmente. A
primeira coisa que fez foi comprar um maço de cigarros na rodoviária. Um ano
e meio sem fumar, mas ninguém precisava saber disso, né? Dessa vez
realmente tinha parado, mas tinha que ser aquele mesmo cara de antigamente.
Queria ser. Precisava disso. Entre engasgos com a fumaça e tossidas entrou
no táxi. – Até o Maktub, faz favor. – Vai estar fechado esta hora, disse o taxista.
– Não importa. Sabia que o velho amigo Geovane o esperava. Toca o telefone.
- Tô chegando, Geovane! Durante a corrida, lembrou das loucuras de
antigamente e de como acabou partindo abruptamente, deixando muitos
amigos para trás. Apesar de se negar a envelhecer, gostava das coisas do
passado e quando o táxi chegou, guardou seu walkman com aquela fita do
David Bowie na mala marrom. O cara era foda, pensou. Os 70’s eram foda.
Puxou um litro de uísque de dentro da mala, jogou duas notas de dez
amassadas ao taxista, desgrenhou um pouco o cabelo e a barba e colocou um
sorriso no rosto. Por enquanto, ninguém podia saber porque realmente estava
ali. Desceu do carro. - E aí pessoal! Puxou três copos de plástico que pegou na
lancheria. - Como fazia tempo, o negócio tem que ser chique, nada de tomar no
bico! E enquanto brindavam falou: - E aí, onde vamos amanhecer hoje?
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