Talvez se fosse um pouco mais.



Doce ilusão a dela em acreditar que ir até a casa de Alex para ouvir o que ele teria a dizê-la depois de tantos sumiços e aparecimentos arrependidos pudesse ter ser uma boa ideia. Talvez tivessem ficado um a frente do outro, meio sem saber o que falar, engolindo o orgulho e tentando achar um jeito menos doloroso de acabar com tudo aquilo. Mesmo que sentisse falta de divagar sobre amores e desamores deitados nas bordas da piscina ou até mesmo na grama, precisava de uma vez por todas entender o porquê de ele ter mudado tanto depois de decidir que não iria mais sair da cidade. Ela não sabia se ainda queria tê-lo como amante, e um amante não como no sentido negro da palavra, mas sim no sentido de como eles estavam sendo nos últimos meses. Sentiam-se dentro de um mistério que nunca estava sendo desvendado e, de certa forma, a aventura já estava começando a perder o encanto. Portanto, naquela noite, ela foi até lá disposta a decidir qual solução dariam para toda aquela confusão sentimental.
Pegou a chave do carro, colocou um casaco jeans com os bottoms do Pink Floyd, amarrou o cabelo de qualquer jeito, passou um batom rosado nos lábios, levou consigo a sua carteira de cigarros e a foto de Alex, que ela pretendia devolver de uma vez por todas.
Fechou a porta de casa, fumou mais um cigarro em frente ao seu carro, cumprimentou o vizinho idoso que a espiava da janela da sala de estar e entendeu que a cara de confusão dele só podia ser motivo do susto que ela tem dado nele nos últimos dias, chegando tarde em casa e fazendo barulho com copos e violões.
Entrou no carro, colocou a sua bolsa no banco de trás, botou pra tocar The Cure e abriu toda a sua janela. A casa de Alex era longe, portanto daria tempo de desviar o caminho.
Era sábado à noite, havia pessoas gritando e bebendo em frente aos bares, e ela foi surpreendida por ver Alex, em meio a tantas pessoas e com uma lata de cerveja na mão. Ele a olhou e veio até ela.
_ E aí, vamos lá pra minha casa? – Disse ele, sorrindo.
_Tu acha mesmo que eu vou conversar contigo nesse estado? – Disse Mônica, segurando o volante com força e soltando um forte suspiro.
_ Depois tu vem me dizer que sou eu quem não quer mais conversar. Eu vou entrar no carro. – Disse ele, dando a volta até o outro lado do carro.
Mônica trancou a porta, e ele ficou sem entender o porquê de ela não ter deixado-o entrar.
“Já chega”, pensou. Arrancou o carro e apenas pôde ouvir gritos dos amigos dele. Não demorou muito para que ele começasse a ligar sem parar, mas, quer saber? Dessa vez, se ele quisesse alguma coisa de verdade com ela, iria procurá-la aonde quer que ela estivesse. Que ligasse mais uma vez, mas que achasse um lugar onde os dois pudessem se encontrar. Sem bebida, sem cigarro, sem rock’n’roll.
Pôde sentir algumas lágrimas caírem, e com muito remorso limpava-as, como quem mal acreditava que estivesse com tanta raiva por causa de um cara como Alex.
Depois que as chamadas pararam, viu que a foto de quem chamava havia mudado. Era Rafael. Já fazia anos que se conheciam, e de qualquer forma havia criado certo afeto por aquele cara. Apenas por sentir que ele era diferente, que ele seria o tipo de cara que não a deixaria na mão, e até então nunca tinha deixado. Nunca tiveram nada, nunca se beijaram e só dividiam a cama para contar um ao outro aquelas coisas que só pessoas especiais mereciam ouvir. De vez em quando tomavam alguns vinhos juntos, davam-se presentes inusitados e ele até tinha a chave do apartamento dela.
Mas naquele momento sentia que ele não precisava ouvir tudo aquilo que ela estava remoendo há meses e preferia que ninguém se metesse no assunto. Mesmo que precisasse de um apoio afetivo. Com isso, deixou que o telefone tocasse.
Chegou em casa, bateu a porta, trancou-a, jogou a bolsa para longe e foi correndo para sua cama. Bem no estilo daquelas crianças que não ganharam doce no mercado e ficam o dia inteiro trancadas no quarto porque não ganharam um simples bombom.
Despiu-se, ficando apenas com as roupas íntimas, e enfiou-se dentro dos lençóis. Naquele momento torcia para que dormisse logo, ou saberia que acabaria retornando a ligação para Alex.
Depois de 5 minutos, viu uma sombra na porta de seu quarto, apavorou-se e gritou, tapando-se subitamente com o lençol por todo o corpo. Era Rafael.
_ Puta merda, Rafa! Como é que tu me entra aqui desse jeito? – Disse Mônica, ofegante.
_Eu tenho a tua chave, esperta. – Disse ele, soltando um riso de escárnio.
_ Tá, mas, porra! O que tu quer?
_ Por que tu não me atendeu? Até parece que não lembra que me disse que eu deveria ir atrás de você toda vez que não atendesse minhas ligações. – Disse ele, aproximando-se da cama e juntando as roupas que estavam jogadas por todo o quarto.
_ Me desculpa, Rafa. Deita aqui comigo. – Disse ela, apoiando a mão no travesseiro ao lado dela.
 Ele se deitou e puxou-a pra perto dele. Subitamente ela sentiu uma segurança inigualável, a qual sempre a fazia acreditar que não precisaria de mais ninguém naquele momento a não ser Rafael. Por vezes, tinha medo de estragar o que eles tinham com as suas vontades impulsivas de puxá-lo mais pra perto e beijá-lo. Porém, não era assim que as coisas funcionariam, não com ele. De certa forma entendia a condição de que haveria outra pessoa na vida dele, e que ela sabia de tudo o que se passava entre Rafael e sua amada. Mas, sempre se questionava: Por que ele me trata assim, tão bem?
_ Ainda bem que você veio, Rafa. – Disse Mônica, olhando-o fixamente e beijando-o o rosto.
_ Estou sempre aqui pra quando você precisar, sweetie. – Disse ele, parecendo ainda mais charmoso com apenas uma fresta de luz passando perto de seus olhos.
Talvez a partir daquele momento, desejara que as coisas enfim mudassem. Que ela pudesse ver que podem existir caras mais legais por aí, e que quem sabe dessa vez ela deveria aprender a dizer não. E, além disso, sabia que quando estivesse triste teria Rafael para alegrá-la, e que quando as coisas tivessem indo muito bem, era Rafael quem estaria dançando com ela mais uma de suas canções satânicas.
And hey, darling, I hope you're good tonight
And I know you don't feel right when I'm leaving
Yeah, I want it, but no, I don't need it
Tell me something sweet to get me by…
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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