Apartamento 401.


Naquela noite em que estivera esperando-o em sua cama, com a persiana semi-aberta e a luz da lua clareando o quarto, talvez fosse melhor que não tivesse tomado mais alguns copos e fumado seus últimos cigarros. O cheiro do travesseiro dele se misturava com a sua onipresença e a fumaça começava a se espalhar pelo quarto. Observava as suas pernas que agora estavam nuas por conta do pijama que vestia e não conseguia parar de desviar o olhar para a porta, com esperança de que ele chegasse, de uma hora para outra, arrancasse a sua gravata e dissesse que nada mais parecia ter graça sem ela.
Subitamente, ouviu algumas risadas e passos pesados vindos da escada e, como numa crise de ansiedade, apressou-se em tomar aquele copo de vodka-com-energético e tapar com o lençol as suas pernas, encolhendo-se para perto da parede e juntando os seus joelhos na altura dos peitos. De repente a porta se abriu, Eduardo ligou a luz e sorriu perguntando a ela se havia demorado. Mônica ironicamente respondeu que ele não precisava ter pressa em voltar para o apartamento. Eduardo sentou na cama, olhou-a fixamente enquanto tirava os sapatos e perguntou-a por que ainda continuava bebendo, ela, como que quase sentindo-se ofendida, ofereceu a ele alguns goles, pois sabia que qualquer pessoa no mundo poderia negar álcool, menos ele.
Ele desligou a luz do quarto e deixou que apenas a lua pudesse fazer com que seus olhos fossem vistos por ela. Passaram alguns minutos apenas se olhando, como que tentando entender o porquê de as coisas serem sempre assim, tão misteriosas.
Mônica esticou as pernas e deixou que ele deitasse de costas entre elas enquanto acendia um dos cigarros caros que ele costumava comprar. Ele passava a mão nas suas panturrilhas enquanto ela bagunçava os seus cabelos, ou os dois sentavam-se um a frente do outro para que pudessem olhar um no olho do outro e arrancar um beijo, como que numa forma estranha de medir forças. De testar quem teria mais controle, quem venceria o orgulho ou quem sairia daquele quarto na hora de pegar no sono. Noites como essas costumavam acontecer com pouca frequência desde a época que começaram a parar de se ver, quando ele descobriu que talvez ela estivesse se envolvendo com outro cara. Ela sabia que para ele nada tivera mudado, mas ela sabia que algo estava diferente.
Talvez fossem aqueles beijos tímidos no pescoço, nas mãos e nas pernas. Aqueles olhares compridos e que terminavam num riso idiota.

Mônica queria uma razão plausível para negá-lo um beijo ou não aceitar que ele dormisse ao seu lado. Queria poder olhá-lo e dizê-lo que não queria mais nada. Nunca mais, nunca, nunca mais.
Mas, de novo, teve a certeza de que as coisas não mudaram tanto quanto ela acreditava. Aqueles anos em que sempre estivera questionando-se sobre até que ponto as coisas poderiam ser justas caíram numa valeta e fizeram com que ela jogasse tudo para o alto. Pelo menos naquela noite, pelo menos durante os últimos goles daquele copo, pelo menos até que o cheiro dele pudesse sair de seu travesseiro. E depois? Depois ela dará um jeito de fugir para outra cidade.

Oh, my god, I feel it in the air

Telephone wires above all sizzlin' like your snare

Honey I'm on fire I feel it everywhere

Nothing scares me anymore


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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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