Com ou sem as nuvens.

Talvez Mônica precisasse mesmo deixar-se levar pelo acaso, e pelo menos por um fim de semana conseguir afastar todas as coisas ruins que a encheram a paciência durante a semana inteira.
Mesmo que seu estômago estivesse vazio, precisava de alguma dose forte que a fizesse reviver, e fazer descer queimando toda aquela raiva e aquelas palavras não-ditas que estavam entocadas em sua garganta. Ela correu o risco de passar mal e acabar nem saindo de casa, mas preferiu arriscar.
Mônica, em ocasião alguma, algum dia se considerou uma pessoa triste ou sem esperança. Pelo contrário, talvez ela fosse tão feliz a ponto de se entristecer tão fácil com coisas que de uma hora para outra passaram a se tornar maçantes. Mônica dificilmente sorri quando não está se sentindo bem, e são poucas pessoas que conseguem fazê-la esquecer de todas as nuvens que estão por cima de sua cabeça.

Mas naquele dia ela fez tudo o que queria. E não precisou de nenhum cara que a mostrasse que existem sensações indecifráveis. Ela apenas de precisou de alguns amigos, boas latas de cerveja e um pouco de ar puro.
Mesmo sendo uma pessoa um pouco impaciente, ela teve vontade de conhecer alguém diferente lá, alguém que a despertasse nem que fosse um pouco de desejo. Talvez o tempo tenha sido curto e ninguém a tenha achado, mas ela sorriu da mesma forma.
Lembrou-se as das quantas vezes em que teve que olhar para quem ela mais queria e apenas engolir a saliva e bater o pé. Subitamente sentiu falta daquelas manhãs em que ela acordava não muito tarde e cozinhava ao som de The End Has No End. Aqueles tempos em que as quintas-feiras sempre a faziam demorar mais um pouco na frente do espelho.

_ Guria, toda hora que eu te encontro tu ta com uma latinha na mão.
Mônica achou engraçada a forma como aquele colega de aula falou da sua sede que durou a noite toda. De qualquer forma ela ainda o achava um pouco atraente, mesmo que já tinha feito um ano e pouco em que eles se beijaram apenas por uma noite, bem na época em que ela não sabia se voltava ou não com seu ex-namorado. Riu daquele moço, que hoje em dia ela mal lembrava que algum dia havia beijado.
Mas concentrou-se em ouvir aquele som e terminar aquelas latinhas. Ela sempre curtiu um bom rock, e quem sabe ela não tenha o conhecimento de todas as letras e ritmos, mas o simples fato de ela poder fechar os olhos e conseguir sentir-se como uma guitarra espantava qualquer sentimento de angústia que estivesse a afligindo.

Numa ação involuntária ela desceu as escadas e saiu cambaleando até aonde tivesse alguma grama pra deitar, algum lugar onde o som não se distanciasse, mas que ela pudesse estar sem ninguém por perto. Deitou em um barranco, encostou a latinha na barriga e respirou fundo. Como quem estivesse aspirando uma paz que de alguma forma era fria e poderia lhe causar uma bela pneumonia.
”Grandes coisas”, pensou ela, pois tem algumas coisas que a gente realmente precisa fazer, não importando as conseqüências.
Lembrou-se do que poderia a estar esperando lá em outro lugar, e teve medo. Afinal, Mônica se encontrava em uma fase muito indecisa.
Sabia de muita coisa sobre si, mas na verdade preferia duvidar. Havia tantas coisas em que ela tinha deixado pra trás e ao mesmo tempo tantas coisas que tentavam a empurrar para ir para frente, que ela decidiu apenas estacionar. Deixar que as circunstâncias a levassem para algum lugar onde as coisas não precisassem de horários, prazos, explicações e muito menos o mínimo de razão. Sentia falta de viver apenas em função de si mesma, mas sabia que a hora de decidir a partir de suas próprias escolhas havia chegado. Talvez o ano inteiro que a esperava custasse a passar, mas ela tinha a certeza de que no ano novo ela agradeceria por não ter desistido de nada. Quanto ao amor... Bom. Ela se sentia feliz estando sozinha, olhando para o céu com aquelas gotas geladas da latinha escorrendo pela sua barriga. Pensava no amor que um dia teve e no quanto aquilo significou pra ela, mas não sentiu falta. Limitou-se, então, apenas a não pensar no que pode acontecer e nem a “arrumar as coisas que ela sente”,  pois de alguma forma, alguém poderia vir de alguma direção e bagunçar tudo de novo.


He wants it easy; he want it relaxed
Said I can do a lot of things, but I can't do that
Two steps foward, then three steps back
...Alright.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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