Era um dia como qualquer outro, e o apartamento de Mônica
estava, como sempre, empoeirado e com roupas atiradas pelos cantos da casa. A
falta de tempo ocasionava tudo isso. Ela chegou em casa, tirou uma peça de
roupa a cada meio metro e assim foi até o seu quarto, onde abriu seu
guarda-roupa, tirou um maço de cigarros e voltou para a sala, por vezes
resvalando em suas próprias roupas.
Chegou até a sala com o propósito de assistir a alguma série policial, mas o que aconteceu não foi nada disso. Acabou abrindo a última porta envidraçada da estante e pegou sua garrafa de uísque, que por coincidência já estava acabando.
Chegou até a sala com o propósito de assistir a alguma série policial, mas o que aconteceu não foi nada disso. Acabou abrindo a última porta envidraçada da estante e pegou sua garrafa de uísque, que por coincidência já estava acabando.
_ Preciso ir buscar
mais algum dia desses – comentou.
Ela nunca foi uma mulher muito rica e nem alguma coisa desse
estilo. Simplesmente tinha um emprego ótimo, um salário suficiente em um
escritório de assessoria jurídica que ficava na outra esquina. Podia comprar de
tudo, mas queria guardar dinheiro para viajar pro exterior o mais breve
possível. E se pudesse, queria levar Amanda consigo.
Amanda nunca foi uma guria muito decidida das coisas também,
mas de qualquer forma gostava de ver como a Mônica se desesperava quando não
sabia o que fazer ou quando faltava um pote de margarina na geladeira. Pior que
isso, é que Amanda odiava eternamente a falta de organização de Mônica, que
conseguia sobreviver em meio a uma cama sempre desarrumada e a roupas atiradas
por todos os cantos da casa, que quando lavadas cheiravam a todos os tipos de
cigarros existentes na indústria do tabaco. Era mais ou menos por aí. Amanda
gostava de fumar, mas como vivia com seu noivo, que aparentemente tinha
problemas respiratórios, e por respeito não fumava em casa. E era quando ela
visitava Mônica que se deixava experimentar aqueles novos “pitos” estrangeiros
que Mônica trazia de suas viagens de fim de semana.
Elas se conheciam tão bem que um simples telefonema com um
“Oi, viu, onde tu tá?” já fazia Amanda pegar seu carro e correr pro apartamento
de Mônica. Por falar nisso, a maior implicância que a Mônica tinha era a de
visitar Amanda. Quem sabe pelo fato de ela não conseguir ficar muito tempo sem
fumar e o noivo de Amanda não ir muito com a sua cara.
Foi mais ou menos nesse dia que Mônica precisava falar com
Amanda. E Amanda, ansiosa, correu para o apartamento da amiga e bateu três
vezes, sussurrando:
_ Mônica! Abre logo isso aqui, tá frio aqui fora “loca da
cabeça”.
Mônica decidiu guardar seu uísque pra não decepcionar a
amiga e tragando um pouco mais fundo foi atender. De primeira Amanda já
comentou que havia percebido que Mônica estava bebendo, e sem mais delongas,
deixou de lado o fato de ser uma terça-feira, e aceitou um copo com gelo.
Amanda sentou-se no sofá mais longo, com três lugares e couro
vermelho, e Mônica sentou na sua poltrona predileta, aquela que seu pai deixou-a
levar para “deixar algum móvel bonito” em seu apartamento.
_ O que aconteceu? – falou Amanda, como quem fala já sabendo
a resposta.
_ Nada não. Só queria tua companhia.
_ Muito engraçado. O que foi mulher? Tua casa ta mais
bagunçada do que o normal e tu ta bebendo uísque numa terça-feira. Aposto
contigo que alguma coisa aconteceu.
_ Sabe que não foi nada demais. Eu é que insisto em querer
entender porque tomo certas atitudes, entende? – falou Mônica, meio que
atropelando as palavras e acendendo mais um cigarro.
_ Tudo bem. É alguma coisa com o Marcelo?
_ Esquece esse cara, Amanda. Tu sabe que ele já ta namorando
e de qualquer forma nem vejo mais ele como antes.
_ Mas não mudou o que tu sente por ele. Estou errada?
Mônica demorou mais do que de costume pra responder esse
tipo de pergunta, mas se conteve em soltar um riso irônico e dizer para Amanda
que, com certeza, ela a conhecia mais que Mônica conhecia a si própria.
_ Tá. Mas e aquele outro cara que tu tava afim?
_ Aquele cara é um canalha e tu sabes disso. Já te disse que
foi apenas uma semana e eu já desencanei dele. Acabou que eu saí do apartamento
dele no meio da madrugada e o melhor amigo dele me contou que ele chamou outra
mulher uma meia-hora depois.
Amanda se calou e pediu um trago daquele cigarro barato que
Mônica comprou só para testar e acabou se arrependendo e deixando seu
apartamento feder por mais ou menos uns dois dias.
_Tu sabe que tem gente que te acha bacana. Como o Marcelo,
que eu realmente achava que daria certo contigo.
_ Grande piada que daria certo com o Marcelo, aquele mimado
quando veio me visitar disse que nunca tinha visto um apartamento tão bagunçado
e ficou todo enojado quando contei que dormia com a minha gata. Vê se pode
isso?
_ Mas era dele que tu “gostava”, Mônica. E não do cara que
mora perto da faculdade e muito menos do que está morando em outra cidade
agora.
Mônica levantou-se e foi até a janela ver a chuva que
lentamente começava a cair, sentiu-se por um momento culpada por ter deixado
todos esses sentimentos emergirem justamente agora. Quando as coisas estavam
aparentemente bem, mesmo quando ela não tinha tempo para muita coisa, sentia
falta de se divertir com a amiga, sem precisar que chegue o fim de semana.
Sentia falta daquelas tardes da adolescência em que elas poderiam passar uma
segunda-feira inteira só comendo brigadeiro de panela e olhando filmes de
comédia romântica se questionando como deve ser ter alguém do lado e amar esse
alguém.
De qualquer forma, Amanda ainda estava ali e tentava mostrar
das melhores formas que ela deveria se abrir para as chances que batem a sua
porta. Mas Mônica era insegura demais e não gostava do fato de pensar em se
envolver em algo que só haja a doação plena de uma das partes, como naquele
primeiro romance que ela vivenciou em seus quatorze/quinze anos.
Amanda levantou-se e foi até ela, e puxou-a para um abraço.
Uma das características mais bacanas de Amanda sempre foi
entender o outro lado das pessoas, mesmo que isso demorasse um tempo ou
precisasse de muita birra para entender.
Ficaram mais um tempo por ali, falando de suas últimas
viagens, os últimos casos de Mônica e mandaram algumas mensagens para as outras
amigas. Combinaram de sair no fim de semana, especificamente em um boteco que
iria abrir no outro lado da quadra da casa da mãe de Mônica.
Por fim, terminaram a noite ouvindo um pouco daquelas músicas que embalavam seus dias de adolescentes, e ao cair da noite Amanda pegou sua bolsa, tomou mais um copo e voltou para casa.
Por fim, terminaram a noite ouvindo um pouco daquelas músicas que embalavam seus dias de adolescentes, e ao cair da noite Amanda pegou sua bolsa, tomou mais um copo e voltou para casa.
_ Vai com calma. Esse meu uísque engana os sentidos. –
comentou Mônica, satirizando a forma de andar da amiga.
Amanda riu e saiu porta afora, despedindo-se da gata de
Mônica e acenando com a cabeça, como quem não queria deixar aquele apartamento,
mas sabia que na quarta-feira de manhã a vida continuaria, com ou sem uísque.
Mônica ficou mais um tempo admirando a chuva, até que
decidiu ir pra cama. Recebeu um convite no celular daquele mesmo cara que mora
perto da faculdade, e sem demora limitou-se a simplesmente apagar aquela
mensagem e colocar meias mais quentes. Nessa hora ela demorou um pouco mais pra
chegar até a cama, mas sentiu-se renovada por saber que o que ela fazia até
hoje, devia-se apenas ao fato de ela não ter achado alguém que lhe renovasse as
energias, entende? E naquele momento desejou que ela não encontrasse esse
alguém, mas sim que esse alguém a encontrasse, algum dia desses, perto da
Avenida João Pessoa ou simplesmente voando as tranças por aí procurando algum
livro que lhe sacie a fome de viver, mais uma vez, um romance profundo.
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