Foi num dia desses, que de repente ela percebeu que aquela
fase de desistência estava custando a passar. Parece que as horas começavam a
se arrastar cada vez mais em cada lugar que ela ficava, parecia que as filas de
banco se tornavam cada vez mais compridas e que as notas fiscais eram
infinitas. Sei-que-vai-passar, repetia ela, levando isso como um conselho que
uma vez ela dera a um amigo e ele agora a diz da mesma forma. Pode ser que
passe, de verdade, ela acredita que vai passar. Mas até esse dia chegar, o que
ela vai fazer com todo esse sufoco?
Olhou-se no espelho por mais de duas vezes, desejando
conseguir corar suas bochechas pálidas de quem acabou de levantar. Enrolou no
pescoço um lenço cor-de-rosa e calmamente abotoou os botões do sobretudo. Colocou
a mão para fora da sua janela e viu que nem estava tão frio pra toda aquela
“roupaiada”, mas de qualquer forma ela sabia que a sala dela era fria, exceto
pelo fato de um dia ela conseguir deixar a persiana aberta a tarde inteira.
Conseguiu concentrar-se em todas suas atividades, como quem sabe que está ali por um motivo. Mas isso não a impedia de as vezes apoiar a cabeça nas duas mãos e pensar no que fazer, como quem repete pra si mesmo: o que eu faço, o que eu faço, o que eu faço? “Bem feito” ela diria pra si mesma se tivesse como se encontrar. “Foi tu que inventou tudo isso, agora agüenta”.
Conseguiu concentrar-se em todas suas atividades, como quem sabe que está ali por um motivo. Mas isso não a impedia de as vezes apoiar a cabeça nas duas mãos e pensar no que fazer, como quem repete pra si mesmo: o que eu faço, o que eu faço, o que eu faço? “Bem feito” ela diria pra si mesma se tivesse como se encontrar. “Foi tu que inventou tudo isso, agora agüenta”.
De qualquer forma, ela não queria que ninguém soubesse que
ela precisava mais do que tudo, de alguns dias, ou algumas horas só pra ela. Em
que ela pudesse colocar numa balança suas emoções e medos e tentar filtrar de
todos os últimos acontecimentos apenas o que ela poderia levar consigo durante
todo o ano.
Vezenquando ela sorri quando percebe que ainda consegue ser
simpática com quem é com ela. Vezenquando ela sente uma alegria enorme apenas
por estar viva e de repente sente uma tristeza por não estar fazendo tudo o que
quer em um dia com vinte e quatro horas. Ela, de forma alguma, se considera uma
pessoa triste. Longe-de-mim-a-tristeza, pensa ela, tem gente que passa por
situações mais complicadas que a minha. Então vamos levantar a cabeça e seguir
em frente, pois com a inspiração de Caio Fernando dá pra se tirar a conclusão
de que as melhores coisas vêm com o tempo e blábláblá. É verdade mesmo, mas é
que ela nunca foi uma pessoa muito paciente pra algumas coisas.
Ultimamente ela tem prezado mais uma conversa sobre redações
do que sobre futebol. Talvez ela tenha preferido também falar do seu passado
amoroso do que tentar adivinhar o seu futuro. Talvez ela tenha desejado demais
as coisas e esquecido que antes de consegui-las é preciso muito esforço. Talvez
tudo passe de um sofisma e ela acabe entendendo que tudo não passa de uma
armadilha de sua própria mente.
Imediato. Imediatamente. Ah, vai vir logo. Pensa e repensa:
Calma, guria.
Pode ser que no fim do último botão do sobretudo tu possas
encontrar a solução pra esse pequeno dilema.
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