Talvez em outro janeiro.

Faz tão pouco tempo que ela deixou que aquele cara sumisse por aí. Não sabe bem o porquê ainda lembra dele, com carinho - ela pensa. Porque é assim mesmo que deve se lembrar das pessoas que sempre foram verdadeiras com você, mesmo que não tenham agido da forma tu desejaste. Talvez o problema esteja nessas músicas que insistem em tocar os mesmos ritmos que ele costumava colocar pra tocar todas as vezes que saíam juntos.

Aqueles poucos meses em que puderam ter certeza um do outro fizeram com que eles mal soubessem até que ponto aquilo iria chegar. Ela queria pouco, ele queria demais. Até chegar o dia que ela quis demais e ele já não queria tanto assim.

_ Se tu quiser eu passo te buscar aí.
_ Não, não. Deixa pra outro dia.

E foi assim, deixando pra outro dia que esse dia não chegou mais, não foi bem assim? Talvez os dias tenham passado tão rápido, os anos tenham passado tão rápido que agora ela decora a sua própria estante com discos do Pink Floyd.
Agora ela senta na varanda e lembra aquele dia em que ele contou que tinha pensado nela, enquanto tomava um uísque e ouvia rock’n’roll. Ela também pensava nele, e sentia sua falta. Porque com ele, ela não precisou oficializar nada, não precisou dar satisfações sobre o que ela fazia e também poderia seguir o rumo da vida sem dar explicações que ele certamente entenderia. E não deixaria de cumprimentá-la quando a visse.

“Vou mandar uma mensagem perguntando como ele está. Certamente esse tipo de coisa a namorada dele não vai ler.” Pode ser que ele não leia, de qualquer forma. Pode ser que pra ele não tenha sido tão intenso quanto foi pra ela. Mas ela tem em sua mente cada palavra, cada deslize, cada rua que foi cruzada e cada birra que foi discutida em todo o tempo em que “passaram” juntos. Ela precisou de pouco pra saber que tinha muito.

Mas ela precisou perder pra saber que poderia ter muito consigo hoje em dia.
Foi em uma daquelas últimas noites da temporada de férias que ela precisou comprovar o que já estava sendo deixado de lado pouco a pouco.
O que a faz pensar até hoje é o fato do olho daquele cara ter brilhado tanto ao ter visto ela, o abraço ter sido tão forte e o beijo no rosto tão demorado. Tudo isso antes de ela ter chegado à conclusão de que tudo tinha acabado. Um fim que mal teve um começo – ela pensou.

Mas na verdade ela ainda leva consigo, mesmo depois de anos, a lembrança daquele cara que conseguiu fazer com que sua virada de ano fizesse um pouco mais de sentido, e que a impulsionou a não desistir do que quer. Talvez a placa já tenha mudado e os discos não sejam mais os mesmos. Mas aquele cara... Aquele cara vai continuar sendo o que fez com que ela sentisse que, de uma vez por todas, as coisas iam se ajeitar.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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