Don't wanna get over him.

Nunca foi uma garota que se preocupasse com seguir uma linha, um método ou uma forma de ver o amor, a paixão e o desejo. Não se importava em usar marcas diferentes de shampoo e condicionador, mas tinha dificuldade em beijar alguém pensando em outra pessoa. Numa noite qualquer, abriu a janela do quarto e decidiu que veria o sol nascer, e que a partir daquele momento definiria, se uma vez por todas, o que sentia por Santiago.
Lembrou-se do trágico fim, ou do começo de uma “nova fase de sua vida”, como anunciara para Amanda. Esse era o marco inicial, “vida antes de Santiago” e “vida após Santiago”. Abaixou a cabeça e respirou fundo, não entendia como uma simples fraqueza a teria surrupiado por meses. Acordava no meio da noite lembrando de quando o elevador trancou no quarto andar, de quando tinha recebido uma notificação de que teria que sair de seu apartamento e ele foi o primeiro a oferecer abrigo. Mal sabia Mônica que o apartamento de Santiago teria apenas um quarto, mas que em algumas horas do dia ela não poderia dormir na “sua” cama por ela estar sendo ocupada por outra mulher, sendo inadmissível, nas palavras dele, que ela dormisse em um colchão na sala. Vez ou outra, quando as coisas ficavam apertadas, corria para a casa de Amanda e prometia não mais voltar. Era demais ter que vê-lo sair do quarto com o cabelo todo desgrenhado e um cigarro no canto da boca. Queria que fosse ela quem fizesse aquela bagunça toda.
Fixou o olhar nas estrelas e por algum momento teve a impressão que sentiu as mãos firmes de Santiago na sua cintura, respirando no seu pescoço e dizendo que ela nunca conseguiria escapar, e que ela sabia disso. Apertava com força o copo de uísque e resmungava baixinho.
Sabia que se tivesse que voltar para o dia em que decidiu trocar olhares com Santi no bar da esquina, não faria diferente. Não teria deixado um copo pela metade e pegado carona com outro qualquer. Não teria deixado de bagunçar a sua mente e coração. Teria feito tudo exatamente como fez: arrumado uma baita de uma encrenca.
Timidamente, o sol ameaçava nascer. Na sua mente desenhavam-se os lábios rachados de Santiago após a longa caminhada até a ponte no dia mais frio do inverno, quando ele decidiu colocar suas mãos nas costas de Mônica e fazê-la congelar com o toque gelado de suas mãos. Quando ela curvou-se por alguns segundos e gemeu, Santiago beijou o seu pescoço e a abraçou fortemente.
Nunca soube a partir de que momento teria sido ludibriada pela sua própria consciência, ou a partir de que instante a presença de Santiago teria se tornado imprescindível para que o dia valesse um pouco mais a pena. Sabia que nunca teria coragem de ter voltado atrás, vai ver ela precisava estar na janela, olhando o sol nascer naquela manhã de primavera e pensando no que foi (ou no que poderia ter sido). Não se arrependia de maneira alguma de ter mergulhado profundamente nas águas de Santiago e muito menos de ter sido aquela que fazia observações em suas poesias, seja colocando um coração no fim da linha ou riscando uma palavra repetida. Nada poderia pagar o sorriso de Santiago quando Mônica lembrava de colocar o seu disco favorito para tocar, quando trazia mais uma garrafa de vinho pro apartamento dividido de junho à agosto ou mesmo quando ouviu todos os defeitos e qualidades de quem, em regra, era o amor da vida dele.

Naquele fim de mês, sabia que tinha passado da hora de procurar um novo emprego, talvez ir morar na capital, parar de escrever e começar a esquecer dos versos de Santiago que estavam socados em uma caixa. Aos poucos, a imagem dele e sua voz pareciam cada vez mais distantes. A única coisa que nunca conseguiria esquecer era o olhar. Na cama. Na fila do pão. No meio da estrada. Depois de fechar a porta na sua cara, para sempre.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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