O primeiro adeus.

21h45. Um sábado qualquer. Uma semana após o desencontro, Mônica decidiu pedir uma pizza, colocar para tocar The Dark Side Of The Moon, vinil emprestado, acender alguns cigarros e encher a cara com a cerveja mais barata que Geovane podia vender naquele estabelecimento há tanto tempo abandonado. Enquanto escolhia qual música deixaria para embalar a ansiosa espera pelo entregador de pizza, olhou fixamente para as paredes de seu apartamento, as quais, inclusive, precisavam urgentemente de uma segunda mão de tinta. Seu apartamento era todo branco, tudo para não lembrar os papéis de parede floridos que teve de aturar ao morar com uma amiga na capital, quando ainda existia o sonho de cursar Psicologia ou qualquer outra coisa que explicasse um pouco como funcionava o cérebro.  
Enquanto respirava fundo e pensava no quanto precisaria gastar para um reforma no apartamento, a campainha tocou. Muito embora estivesse vestindo uma camisola gasta e curta, pensava que o pobre entregador nem assim teria coragem de agarrá-la. Afinal, não é todo dia que se encontra uma mulher com olheiras, cabelo desgranhado e vestimentas surradas. De qualquer forma, pediu que o moço esperasse, apagou o cigarro e amassou a latinha de cerveja. Parou na frente da porta, olhou para si e pensou “Ah, foda-se, vai assim mesmo”. Abriu a porta, e ao olhar para quem estava do outro lado da porta perdeu o ar: Era Santiago. Eram 22h07. Ficou perplexa enquanto ele a olhava dos pés à cabeça: “Ei, que sábado animado”, disse ele, rindo alto. Mônica, desajeitada, perguntou o que ele estaria fazendo na cidade num sábado. Santiago perguntou se não poderia entrar, Mônica hesitou mas deixou que ele passasse, a centímetros de seu corpo. Logo que ele entrou, dirigiu-se para o quarto a fim de mudar de roupa, pelo menos, pois a forma com que recepcionou Santi poderia muito bem mal interpretada, considerando os últimos encontros que tiveram antes da grande decisão de Mônica. Entrou no seu quarto, esbaforida, falando sozinha, buscando alguma calça jeans e uma blusa qualquer. Começou a tirar a camisola, e neste momento Santiago apareceu na porta, sem fazer qualquer barulho. Vestiu o que tinha a seu alcance e quando estava terminando de colocar a camiseta branca do AC/DC, surrada e quase amarelada, avistou Santiago com um sorriso malicioso na porta. De súbito, virou-se de costas para ele novamente, dizendo com certo tom de raiva: “Quem te deu permissão pra vir até aqui, porra? Eu tô me trocando”. Santiago respondeu com desdém: “Ah, Mônica, como se eu já não tivesse visto isso antes, deixa de ser boba”. Mônica retrucou antes mesmo de Santiago terminar a frase: “Mesmo assim. Isso é passado”. Santiago bateu na porta, sem querer assustar mas já assustando, perguntou: “Tá, tu tá sumida há uma semana, nas últimas vezes que me viu desviou o caminho. Eu vim aqui saber o que tá acontecendo, porra.” Mônica fechou a cara, sentou na cama e ficou olhando o seu reflexo um tanto desesperado no espelho. Santiago aproximou-se e ajoelhou-se na sua frente, colocando cada mão em um joelho, olhando seriamente nos olhos de Mônica, enquanto ela respirava fundo e tentava entender o porquê de tudo aquilo estar acontecendo ali, naquele momento, em um dia que ela tinha reservado para esquecer de Santiago e de todos os erros até ali cometidos. 
Santiago beijou-a levemente nos lábios, fazendo com que Mônica permanecesse de olhos fechados por alguns segundos. Ela se levantou, foi em direção à porta e pediu que Santiago fosse embora. Santiago, de joelhos, levantou-se abruptamente e foi em direção à Mônica, segurou seu rosto e muito antes de beijá-la disse que sentia sua falta. Mônica virou o rosto e repetiu que aquilo era encrenca e que o motivo pelo qual estava se afastando lentamente era justamente para que ele não sentisse seu sumiço. “Você sabe, no fim eu estou sozinha...”, disse ela, chegando até a sala de estar e abrindo a porta do apartamento. Santiago disse que não entendia o porquê de tudo aquilo e que sentia falta de alguém com quem pudesse conversar a qualquer momento, sobre qualquer coisa. Mônica, já sentindo o efeito da cerveja barata, pediu que Santiago deixasse seu apartamento, de-uma-vez-por-todas. Segundos depois, Santiago pegou a chave de seu carro, encarou Mônica e foi embora. Mônica fechou a porta e a partir daquele momento teve certeza que a melhor decisão havia sido tomada. Dois segundos depois, uma batida na porta. Mônica abriu a porta, e Santiago a empurrou, gritando: “Eu só vim aqui porque eu quero estar contigo, guria. E eu nunca falei tão sério na minha vida.” Mônica olhou-o nos olhos, momento em que Santi a empurrou contra a porta e beijou-a suavemente, deixando-a indefesa e sem conseguir reagir a algo que ela queria, e que era óbvio que não conseguiria negar. Naquela noite, talvez a última em que vira Santiago, pôde entender que quem estava se despedindo para sempre não era ela, e sim Santiago.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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