Meio de dezembro.



Foi naquela tarde de dezembro que eu deixei que você escapasse, mesmo sem perceber. Tínhamos acabado de deixar a sala de aula, você me disse “good bye”, mas quando eu saí porta afora você estava lá a me esperar.
Adorava o jeito com que você pairava ao lado de seu carro prata, perto da porta apenas esperando que eu me aproximasse para abri-la. No entanto, em mim cabiam apenas dois pensamentos, os quais se limitavam em ir a tua direção, pegar na tua mão e deixar que tu me levasse pra onde quisesses; ou simplesmente virar o rosto, repetir o adeus e deixar pra lá.
Decidi seguir o primeiro pensamento, e com um sorriso meio tímido, segurei com firmeza a pasta azul e fui a tua direção. Tu, entendendo o recado, abriste a porta do carro e deixaste que eu me acomodasse no banco da frente. Já dentro do carro, colocaste pra tocar algumas de tuas músicas, as quais na época eu não fazia ideia de que banda eram. Apenas aceitava a ideia de quem eram músicas que envolviam acordes de guitarra que me davam saudade de ti mesmo estando ao teu lado. Davam-me vontade de sumir desta cidade, desligar o celular e voltar apenas quando estivesse preparada para olhar pra cara de todos e dizer que o que eu fiz me deixou feliz.

Convidou-me para ir à loja de brinquedos, pois tu precisavas comprar alguns cadernos e outros carrinhos da Hot Wheels para doar pra uma criança que precisava de um desses presentes para ter um Natal feliz. Foi nesse momento, na porta da loja, que tu pegaste na minha mão e entraste naquele lugar de mãos dadas comigo. Primeiramente tive vontade de largar a tua mão e perguntar o que estava acontecendo, como quem quer acreditar que as coisas não estão fluindo tão bem assim. Entretanto, deixei que nossas mãos continuassem entrelaçadas. Sentia-me feliz e ao mesmo tempo nervosa. Minha mão começou a suar, eu comecei a gaguejar algumas palavras e sorrir sem motivo.

_ O que tu vai querer de Natal?
_ Eu? Eu nada. Não precisa.

Poderia ter dito: Te quero comigo, te quero ao meu lado, quero que tu pegue na minha mão por mais de 365 dias e esteja ao meu lado quando eu acordar, por favor. Quero que tu me dês vários presentes de Natal, que tu pule sete ondas comigo e que tu me digas teus sonhos e as bandas que tu gostas de escutar. Te quero comigo, só isso.

Saímos da loja, você sorridente e feliz se orgulhando por estar fazendo a tua parte naquele Natal, e eu, me perguntando se eu deveria ter te respondido alguma coisa sobre o tal presente.
Tu me deste um beijo, me puxou pela mão e andamos mais alguns passos até chegar ao teu carro.

_ Vamos pra fora da cidade?

Que dúvida! Contigo eu iria até Marte se tu me pedisses.
E assim fomos, abaixei todo o vidro do carro e deixei que aquele vento forte soprasse em direção ao meu rosto. Fechando os olhos, em um dos ouvidos sentia o barulho do vento, e noutro eu escutava alguma canção cujo não lembro o nome.
Quando olhei para o lado e te vi, logo me perguntei se tudo aquilo estava realmente acontecendo. Eu, tu, nós. O sol, o vento, a música, minha pasta que cobria minhas pernas devido a minha timidez ao usar shorts. Minha mão já começava a suar e eu disse:
_ Não sei o que tá acontecendo -, meio sorrindo e meio abobada.
_ Por quê? – disseste rindo.
_ Minhas mãos estão suadas, e às vezes sinto que estou tremendo.

Neste momento, tu olhaste em meus olhos e sorriu docemente, como quem soubesse o que estava acontecendo.
Demorei a perceber que já estava tudo indo por água abaixo. Todo aquele pensamento fixo em não deixar-se apaixonar e muito menos por ti. Que bacana, danou-se tudo.

Mais algumas voltas e tu me deixaste em casa.

Doce dia de dezembro, não mais iria te ver nas tardes de sábado, mas sabia onde te encontraria nas quintas-feiras. O mês já estava por acabar, e isso que eu começava a sentir já se manifestava como se estivesse durando um janeiro inteiro.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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