Em vez disso, preferiu colocar o pijama mais velho que se encontrava na última gaveta de seu armário, junto com algumas cartas rasgadas que ela não tivera coragem de jogar fora. Era um pijama que se estendia até a metade das coxas, tinha um tecido que não era de seda, mas tinha um toque suave; continha algumas flores rosas e outras roxas, rodeadas de pequenas folhas verdes. Presente de sua mãe diretamente de uma loja barata da praia em que costumavam visitar nos calores escaldantes de janeiro.
Alguns minutos depois de sobrepor em seu criado-mudo uma taça de vinho e se jogar em sua cama, avistou a luz do seu celular acender, do outro lado do quarto.
Deixou que tocasse, deixou que a luz ficasse acesa até o outro dia. Não queria ver quem era e muito menos acabar vendo que era quem ela queria que fosse.
Sem muito saco pra assistir a novela das nove e muito menos ver desfiles de lingeries nos canais abertos, desligou a televisão e colocou seu vinil de The Dark Side Of The Moon pra tocar. Achou Us And Them e novamente se atirou em sua cama.
Lembrou-se sorrindo do primeiro dia em que tivera ouvido aquela música, ao lado de Eduardo em um dia em que a chuva impedia que se enxergasse alguma coisa pelas ruas da cidade.
_ Não vai dar pra passar daqui, disse Eduardo com certa malícia.
_ Ah, por favor, ainda dá pra enxergar, sem contar que a chuva já está parando.
_ Eu quero falar contigo, Mônica.
_ Tá. E precisa ser no meio da estrada, nesse escuro absurdo e com essa música quase me deixando surda?
_ Se tu soubesse que música é, tu não diria isso.
Realmente, se ela tivesse parado pra deixar que a chuva caísse, tivesse deitado nos braços dele e sentido um pouco daquela música, ela não estaria reclamando e fingindo descaso com aquela situação. Ela queria muito bem poder sentar no colo de Eduardo e falar que estava preparada para estar com ele, não só por aquela noite, mas por todas as que pudessem estar juntos.
Mas sobre isso, ela nada fez. Simplesmente escolheu insistir a ele que saíssem dali. Reinou de dor nos pés e disse que já estava ficando tarde para ficar dando voltinhas por aí.
No último gole de seu vinho – presente de “dia do amigo” de Amanda –, começou a sentir de novo toda aquela coisa que vinha assombrando seus últimos dias. Questionou o porquê de ter sido sempre tão imatura a ponto de tratar Eduardo como se ele fosse apenas um cara que sempre estava no lugar que ela estava e sempre a convidava para conhecer outras cidades, outras pessoas, outras estadias e outros bares. Eduardo sempre a levava para qualquer lugar que fosse, e Mônica acreditava que isso tudo fazia parte de sua estratégia de jogo.
De certa forma, tudo o que ele fazia tinha uma intenção, mas em vez de ela dizer tudo o que pensava sobre as idiotices que ele fazia, ela foi empurrando tudo com a barriga pra ver até onde agüentava sem se apaixonar por aquele cara. “Isso aí, Mônica, muito bom!”, repetia para si mesma toda vez que pegava o celular e discava o número dele, mesmo sabendo que ao atender ele não entenderia bulhufas de seus sentimentos e desejos incessíveis.
Talvez toda e qualquer bebida já não descesse da mesma forma que costumava descer quando ela compartilhava uma garrafa de vinho com ele. Os dois, sentados um ao lado do outro no sofá, distribuindo sorrisos e carícias ao som de What Do You Want From Me.
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