_ Tu pode me levar pra casa agora, se tu quiser.
_ Tudo bem.
No carro tocava, no volume 32, o bom e velho Pearl Jam. Como
se não bastasse, ela lembrava da forma com que ele costumava cantar as músicas
e a forma com que trocava a marcha com a mão esquerda por estar segurando a mão
dela com a mão direita.
_ Eu moro por ali – disse ela, apontando para uma das ruas
que chegavam em sua casa.
_ Eu sei – disse ele, soltando um risinho.
Talvez tivesse se passado tanto tempo que ela já tinha
esquecido o quanto ele evitava deixá-la em casa, fazendo com que a gasolina
começasse a faltar de tanto que admirava a forma com que ela se debruçava na
janela apenas para poder sentir o vento frio bater em seu rosto.
As mãos entrelaçadas significavam nada muito romântico nem
muito próximo dos dois, mas de qualquer forma fazia com que tudo começasse a
parecer confuso. Talvez se não houvesse os olhares, se não se escutasse aquelas
músicas, se não tivessse caído a noite ou se eles não estivessem um ao lado do
outro.
Ela sentia que alguma coisa tinha mudado durante tanto
tempo, pois aquela mão que segurava a dela tinha o poder de fazê-la parar de
suar e, de certa forma, aquele olhar tinha começado a fazê-la sorrir. Aquele
beijo, o qual ela não tinha certeza se ainda lembrava o gosto, parecia mais
doce e intenso. Talvez o cabelo bagunçado, a roupa amassada e o volume máximo
de “Black” tivessem ajudado ela a sair do carro para poder respirar melhor e
tentar não fazer com que aquela música entrasse em sua alma e fizesse com que seus
olhos que tanto sorriam mudassem de humor.
Andou mais alguns passos e ouviu o seu nome, virou-se para
ele, que se encontrava escorado no carro de braços cruzados e sorrindo. Logo
que encontrou o seu olhar, sentiu vontade de correr, de dizê-lo que aquilo já não
fazia mais sentido e que as coisas não iriam mudar de qualquer forma. Em vez
disso, foi em direção a ele e o abraçou forte, fazendo com que a escuridão da
rua não fosse mais um obstáculo para o seu problema de visão. Afinal, ela
estava nos braços dele, ela estava com ele, nem que tenha sido por um dia. Um
dia qualquer desses em que ela mal imaginava que terminaria desse jeito.
Lá vai ela, mais uma vez, segurar o rosto dele e desejar que
fujam juntos. Lá vai ela, deixar o celular longe de sua mão porque sabe que no
dia seguinte ele não tocará.
Talvez se não tivesse visto-o tomando cerveja sozinho numa mesa
de bar tivesse feito com que ela não estivesse lembrando de tudo isso numa
tarde qualquer, ficando apenas com um cheiro marcante em sua roupa e uma
chamada no celular.
I know someday you'll have a beautiful life, I know you'll be a star
In somebody else's sky, but why, why, why
In somebody else's sky, but why, why, why
Can't it be, can't it be mine
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