Amsterdã.

"Qualquer coisa, menos isso!", ela repete na frente do espelho como quem desvia o próprio olhar e quer acreditar que não foi muita coisa que mudou. Olha para o lado, vê seu casaco jeans caído no chão, lembrou-se de quando o comprou, não pensava que usaria frequentemente. Mas foi só ter em casa, usar mais de duas vezes que ela não conseguiu mais largá-lo. Pensou, a partir dessa concepção, no que ela tem feito com o que ela tem.
Admirou-se em pensar que havia deixado passar muita gente interessante apenas pelo medo de como vai ser o depois - pensando nisso, ela acabou deixando de viver o presente. Ela podia ter evitado aquele cara e ter dado chance àquele outro, ela podia ter deixado disso para ter feito aquilo, ela poderia ter seguido esse caminho ao invés desse outro. Deixou passar, não importando como algumas coisas poderiam ter modificado todo um percurso.
Enquanto se olhava no espelho e tirava maquiagem, observou suas olheiras, deu um meio sorriso e pensou: “Elas têm uma razão, de fato.” Nunca tinha observado como suas feições eram simétricas e como sua pele demonstrava que ela não perdia nenhum dia de sua vida, e percebia que, mesmo com algumas espinhas e com os cílios grossos de tantas camadas contínuas de rímel, ela ainda tinha um pouco da beleza que ela considerava ser somente dela. Por um momento ela teve uma certa curiosidade de saber de que forma os outros garotos olhavam para ela. Não se considerava esbelta e nem muito discreta, mas acreditava que um pouco do seu humor poderia corrigir suas imperfeições.
Enquanto o seu celular piscava, ela passava o lenço úmido em seu rosto e decidia sobre o que iria fazer naquele sábado a noite, em que havia sido convidada para um show de rock, mas estava com anseios sobre o que ela poderia ver ou, quem sabe, sentir naquela noite.
Tudo não passava de medo. Medo de que alguma paixão cresça ou de que as coisas acabem de um jeito tão idiota que faça com que ela se arrependa de ter saído de casa. Na verdade, sempre foi assim.
“Até parece que tu não sabe que sempre foi assim.”

De qualquer forma, gostava de ter esse medo. Isso a tornava um pouco mais consciente de suas decisões, e fazia com que ela não deixasse que as coisas simplesmente fluíssem sem pensar muito, pois esse tipo de coisa, quando é feito por ela nunca acaba tão bem quanto se pensa.

Atirou-se sobre a cama, encostou a cabeça sobre seu braço, e com a outra mão, pegou o celular para ler a mensagem que tinha acabado de chegar.
Deu uma risada irônica e soltou o celular, deixando-o cair no chão. Respirou fundo e pensou, repensou e trepensou.

Pensou, repensou e trepensou..
Talvez ela tivesse pensado demais que deixou de saber sobre o que estava pensando. Subitamente, deixou-se levar apenas pela aventura, colocou uma roupa, vestiu seu casaco jeans – adorável casaco jeans – e saiu, sem muita bagagem, mas com muita ânsia por tudo que seja novo.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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1 comentários :

  1. D. Chica e o berro que o gato preto deu: o gato que na verdade sempre fora dela, e depois que a paulada foi dada, o bichano de bigodes longos e finos e velhos, nunca mais fora o mesmo. Miau!

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