Um pouco mais longe do bar.

Sem pensar muito, Mônica tirou de seu guarda roupa o casaco mais quente que tem. Pegou o isqueiro e o presenteou com a companhia do último cigarro que ela ainda tinha guardado. E dessa vez, ela sabia que seria o último, pois tinha prometido para si mesma, de pés juntos em frente ao espelho, que não iria fumar mais.
Afinal, que tolice é essa que ela resolveu adotar? Sabendo que quando mais jovem vivia brigando com a sua mãe por ela perder mais alguns anos de vida fumando. De qualquer forma, naquele tempo ela via problema em tudo. Achava que tudo não prestava, mas mesmo assim adorava beber Brahma e não tinha problemas com isso. "Eu era nova demais", pensava ela. Nova-pra-isso, nova-pra-aquilo, tão nova pra tudo que lá perto dos 17 ela deixou isso de lado. Talvez as coisas estivessem andando tão rápido que era idiotice dela deixar de viver algumas coisas. Ainda se fosse sair por aí, se drogar, dormir na rua e fazer sexo com qualquer um, tudo bem, não seria bom para ela e muito menos se adequaria a sua idade. Mas o que ela deixava de viver era menos que isso. Eram coisas que até não fugiam muito da concepção que ela tinha sobre alguns fatos que aconteciam a sua volta, mas, eram coisas que ela tinha medo. Apenas por pensar coisas do tipo: “Eu posso viver isso ainda, não preciso antecipar”, e todo esse blá-blá-blá que cansava até a si mesma de vez em quando. Mas ela gostava disso em si, pois sabia que poderia correr o risco de perder algumas oportunidades, mas tinha certeza que outras chances algum dia bateriam a sua porta novamente, mas quem sabe com uma cara nova ou meio disfarçada.

Quando saiu porta afora, logo soltou um palavrão de espanto, mas decidiu sair assim mesmo. Precisava ver outros lugares, não importando a hora e nem as circunstâncias, gostava de ouvir Blackbird e caminhar exatamente no ritmo, como se estivesse fazendo parte de um videoclipe. Acendeu seu último cigarro e colocou uma das mãos no bolso. Resolveu nem pensar sobre como estava o seu cabelo, que naquele momento, sem dúvida alguma se encontrava num caos total. Não que ela não se importasse com o seu cabelo, mas a verdade é que ela estava cansada de se estressar tanto assim com ele. Afinal, existem aquelas frases que dizem que “devemos nos aceitar como viemos ao mundo”, e ela estava afim de segui-la. Pelo menos por aquela noite.

Passou na frente de uma cachaçaria, perto de sua casa, e logo lembrou da ligação que havia recebido a um tempo atrás. Lembrou-se que naquela noite tocaria uma banda, e que ela tinha sido convidada para o tal evento. Riu e lembrou que um dos integrantes era um dos meninos que, por uma noite, ela havia beijado durante um daqueles jogos de verdade-ou-consequência. Os poucos minutos que duraram o beijo a fizeram sentir um pouco de saudade daquele tempo, onde ela não tinha vontade de sair pra ver alguém diferente e começar um novo romance, e sim rodeava em volta das mesmas pessoas e achava um jogo para poder sanar um pouco da carência que a afligia na época.
Quando passou na frente do bar, logo avistou quem era sabia que estaria ali. Apressou o passo para que não fosse vista até que...

_ Mônica?
_ Ah, oi.
_ Tu não vai ver a banda tocar?
_ Não, não. Vou... Vou comprar umas bebidas ali no posto.
_ Ah, ta. Quanto tempo eu não te vejo... Ainda continua morando ali na quadra de baixo?
_ Sim, sim. Pois é, ando um pouco indisponível.
_ Isso já não é novidade. Mas... Lembra aquele dia que eu te liguei? Me desculpe, eu me precipitei e acabei fazendo o que eu não devia.
_ Tudo bem. Eu acho que entendi o que tinha acontecido aquela noite.
_ Menos mal. Mas.. Então... Vou lá! Se quiser dá uma passada ali, os caras da banda ainda vão tocar mais umas.
_ Ta bem. Qualquer coisa eu passo lá mesmo.
_ Beleza. Se cuida, guria. E vê se para de fumar.
_ Vou parar. Até mais.

Mônica virou-se e continuou o seu caminho, fechando os olhos e fazendo uma careta, como quem tivesse comido algo e não tivesse gostado.
Mesmo com o passar do tempo, aquele cara ainda mexia com os seus sentimentos. Afinal, as coisas tinham acabado tão mal resolvidas que ela deixara de dizer muita coisa que hoje em dia, ela não tinha certeza se ainda conseguiria dizer. Ela não podia dizer que ainda amava ele, o que ela sentia era um pouco de saudade. Saudade de quando ela sabia que não importava os “nãos” que ela atirava na cara dele, ele ainda continuava ali. E mesmo depois de tantas falácias a respeito do que ele sentia por ela, ela sabia, que querendo ou não ela tinha feito parte de uma parte significativa da vida dele. Grande coisa se não foi muita coisa, mas se não tivesse sido, por que aquela ligação?

Mais tarde, resolveu passar ali na frente. Acabou acenando de longe e resolver voltar pra casa, afinal a dor de garganta estava começando e ela não queria ser vista com mais uma carteira de cigarros.


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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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1 comentários :

  1. Com ou sem cigarros uma coisa é quase certa: Mônica ainda sente o seu coração batendo por algo mal resolvido. Se fumar ou beber, como muitas vezes fez o jovem Roque,adiantasse alguma coisa Roque não procuraria uma vez por semana algum motivo para beber, ou ainda em outros casos fumar um cigarro. Tais coisas não vão trazer a eles o que mais procuram, mas e daí? Essas coisas podem amenizar um pouco essa ansiedade que ambos estão sentindo e talvez eles não estejam a procura de nada e sim a espera de alguma outra coisa...

    Um abração Manu!

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