Será mesmo que o amor vence o comodismo de um dos pares em achar que o emprego dos sonhos vai cair no seu colo a qualquer momento? Será que o amor consegue entender as limitações psicológicas do outro? E até quando? Às vezes a gente pisa em terrenos que nem mesmo o outro entende sobre si e acredita fielmente que o nosso amor o fará mudar ou até mesmo superar traumas. Tá certo, isso não quer dizer que o amor não possa ser um propulsor capaz de melhorar a concepção que nós mesmos temos sobre nossas atitudes e nossos problemas. Até eu quero acreditar nisso. Mas e além disso?
A gente romantiza amores supérfluos, a gente acredita que se um cara não mandou mensagem durante uma semana deve ser porque ele teve outros compromissos, até mais importantes do que simplesmente dizer um "oi" despretensiosamente. Ouso dizer que tenha gente que invente essas mentiras para si como forma de conforto, inclusive. É mais fácil justificar pelo que dói menos, não é? É difícil olhar para cada situação amorosa com frieza e dizer: "pô, ele não veio falar comigo porque ele não quer". E dentro dessas situações a gente quer romantizar, romantizar e romantizar, esperando que quando o outro realmente vier, ele vai conseguir nos convencer dos motivos de sua ausência.
A gente quer ser honesto, pensa em parar o carro no meio da rua, descer do carro, abraçar o outro e no meio de um beijo estranho dizê-lo que talvez haja algum risco naquele "unspoken thing", como diria Peter Quill. Mas a gente não o faz porque tem medo de que a realidade seja dura e termine com um: "então paramos por aqui", ou pior, um "eu quero arriscar" acompanhado com um silêncio eterno no dia seguinte.
Sabe qual o problema? Se no dia seguinte a gente acordar se sentindo diferente - ou mesmo apaixonado - a gente vai entrar na porra do Spotify e procurar a música mais dramática de todas como forma de confirmar essa paixão, fantasiar, imaginar-se em uma cena de mais uma comédia romântica que acaba, ao fim e ao cabo, no maior estilo 500 dias com ela. Pena, a gente tentou, né?
A gente por vezes acha que forçar a barra é normal, é culpa do amor, da paixão arrebatadora. A gente idealiza a vida com alguém antes mesmo de perguntar para esse alguém o que ele sente - resumindo, na maioria das vezes a gente sente tudo sozinho. O risco que você corre é insistir tanto no começo de uma relação que ela acaba acontecendo porque VOCÊ venceu, você convenceu o outro a aceitar o teu amor. O grande problema disso é que quem somente aceita e não sente, uma hora vai embora. E quando vai embora, mais uma vez a gente romantiza a perda. A gente tenta reviver na cabeça todos os momentos bons ao som de Chelsea Hotel #2 do Leonard Cohen, como se durante a relação a gente não tivesse tido vontade de desistir de tudo por simplesmente ter que fazer tudo acontecer, investir em algo que nunca deveria ter sido insistido. A gente lembra dos passeios no parque mas não lembra daquele porre que o outro tomou e falou verdades que machucavam. A gente lembra das sessões de cinema mas se esquece que semanas após o término o seu lugar na cadeira do cinema já foi substituída. A gente se culpa por amar demais e acredita que erramos por isso, quando na verdade só erra quem ama de menos.

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