Quando você me disse que tinha medo de se entregar devido aos teus amores mal resolvidos, eu estufei o peito e te mostrei coragem. De certo modo, acredito que minha coragem te impulsionou a não ficar pra trás e seguir o caminho comigo. Sem pensar muito, você aceitou o desafio. O que para você era um teste, para mim era êxtase. É tão bom conseguir sentir-se viva, sabia? Sentir o amor se misturar com seu sangue, sentir o coração pular pela boca só de pensar que compartilharia a vida com alguém. Espero que você tenha sentido isso com alguém. É fantástico.
No entanto, algo no meio disso tudo começou errado - talvez a minha insistência, talvez a tua carência. Peguei tua mão e te disse: "Venha comigo!", e você, tímido, no meio de um beijo estranho, aceitou o meu convite, mesmo sem saber o que te esperava pela frente. Te levei às montanhas, ao lago, ao mar, ao céu e ao inferno - você me acompanhou, mesmo sem entender. Eu, saltitante, risonha, agarrando-o a todo segundo. Você, rindo, receoso porém com uma ponta de esperança. Eu sei que causei algum efeito em ti, nem que seja o suficiente para você dizer que não causei nada.
Te mostrei meus medos, meus fracassos, meus sucessos e meus anseios. Três filhos, uma casa - não gosto muito de apartamento. Ríamos enquanto você não aceitava o nome que eu daria pros nossos filhos. Toda essa coisa de filme, não é? A gente brincava, mas no fundo sabíamos que um dia tudo isso chegaria ao fim.
Foi nos finais de tarde, em que seus olhos já não brilhavam mais. Foi no toque, que de carinhoso tornou-se pesado, foi na falta do abraço, no evitar da companhia, nos risos que eram deixados para o outro dia - "meu bem, estou muito cansado". Pudera eu ter notado com mais precisão que o teu cansaço era mais profundo do que eu imaginava. Então eu lhe acariciava, tomava-o no meu colo e dizia que você estava fazendo tudo certo, e que uma hora ou outra a recompensa viria.
Eu te inventei.
Imaginei que você seria exatamente aquilo que eu precisava, que nos momentos de dor você me abraçaria e me daria a certeza de que a tua presença seria meu conforto. Imaginei que casaríamos numa praia ou no campo, que no dia seguinte viajaríamos para a cidade mais próxima para fazer um piquenique. Imaginei você me apoiando, fazendo-me sorrir por simplesmente estar ali por inteiro.
Mas você não conseguiu, não conseguiu ser inteiro ao meu lado. Algo te faltava.
Minha bateria começou a acabar.
Fiz o que pude. Gastei energia pensando no que te faria mais feliz, quando na verdade o que faltava era eu pensar, em primeiro lugar, na minha felicidade. E minha felicidade, infelizmente, não estava mais em estar com você.
A tensão, a hora demorada, o medo de perder por um motivo que deveria mais nos unir.
Antes de você tomar sua decisão, o nosso destino já estava traçado. Estava traçado quando você disse, naquele frio de junho, que estava confuso e precisava reorganizar seu coração.
Nosso fim já estava traçado quando você, aos trancos e barrancos, agarrou na minha mão. Sua mão emanava suor, tua fala era baixa, teu corpo tremia - enquanto eu estava em paz. Você nunca teve a paz de que necessitava para me querer para a vida inteira.
E foi aí, justamente aí, que a nossa paz acabou. Minha bateria acabou, não haviam esforços suficientes pra te fazer ficar. Uma janta dali, um vinhozinho daqui, e a luz se apagou. Terminou.
Eu estava sozinha novamente, pensando no que eu deixei de fazer ou onde que falhei, quando na verdade você falhou.
Você falhou na sinceridade, no romantismo, na entrega, e eu sei bem o porquê: você não tinha como me oferecer. A gente só oferece aquilo que tem.
Você falhou quando te olhou no espelho e acreditou me ver ao teu lado, quando na verdade você nunca teve certeza se me queria ao teu lado. Você lutou esse tempo todo contra algo que teu coração relutava.
Agora, sem bateria, esgotada - e talvez aliviada, penso que as coisas poderiam ser diferentes, só bastava sentir. Faltou sentir por mim algo que te fizesse desistir de todo o resto - faltou amor.

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