Debaixo da marquise.



No momento em que estava voltando para casa do trabalho, acendeu mais um cigarro e prometeu que não gastaria seus seis reais com coisas desse tipo. Sabia que era infantil de sua parte ficar procurando alguma coisa que acabasse com aquele nervosismo, o nervosismo de quem nem sequer consegue responder às perguntas que outrora ficava ansiosa em poder perguntar para outro alguém.
Talvez todas aquelas dúvidas que um dia tivera sobre como saber decidir o que quer ou não estivessem vindo cada vez mais à tona e fazendo com que ela desistisse de pensar demais, de se importar demais, ou também de se apaixonar demais. E fácil demais.


Fazia pouco tempo que ela conhecia Alex, mas de qualquer forma ainda sentia que seus passos eram constantemente seguidos pelos dele, e que a cada gota de chuva que caía em seu corpo era o toque suave de sua mão. Quis parar com aquilo tudo, quis jogar aquele cigarro fora e se proteger da chuva até que ele viesse buscá-la. Ela não tinha certeza de que ele a buscaria seja lá onde ela estivesse, mas sabia que só ouvindo a voz dele alguma coisa mudaria aquele dia em que todas as coisas decidiram dar errado. “Talvez eu tenha acordado com o pé errado”, pensava ela. “Ou talvez acordado longe dele”.
Andou mais um pouco e ouviu um ronco de motor, virou-se para o lado e encontrou Alex, parando aquela moto emprestada e sorrindo docemente. Como quem tivesse visto todo aquele jeito tímido com que ela estava andando na chuva, como quem se esquiva mas ao mesmo tempo gosta de sentir as gotas geladas deslizarem pelo rosto. Tratava-o, de certa forma, como a chuva. Tinha medo de senti-la, mas ao mesmo tempo nada podia explicar a forma com que a fazia tão bem. Espantava seus medos, mas ao mesmo tempo floresciam novos. Despertava-a o desejo, mas ao mesmo tempo fazia com que ela não quisesse acreditar no que queria.   

Demorasse mais dois minutos, ou talvez até dez; ou talvez até três horas, como da última vez. Mas ela ainda saberia que ele viria. Que a abraçaria e deixaria que ela sentisse o cheiro dele e tivesse vontade de nunca mais largá-lo.
Se não fosse aquele sorriso ou aquele jeito meio tripolar de ser, talvez ela não tivesse despertado toda essa explosão de sentimentos em tão pouco tempo.
Que seja bipolar, que seja tripolar, mas que possa - quem sabe - existir. Pode ser até quando ela quiser, ou talvez seja melhor que não haja datas.

So use it and prove it
Remove this whirling sadness
I'm losing, I'm bluesing
But you can save me from madness

 
Compartilhar Google Plus

Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

Postagens Relacionadas

0 comentários :

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial