Café para dois

Era janeiro, o sol teimava em atravessar as frestas da janela num final de tarde qualquer. Nícolas estava com a cabeça encostada na parede e, distraidamente, contava a quantidade de bolinhas que a luz do sol, através das frestas, formava na parede. Sua respiração era lenta, quase que imperceptível - talvez lhe faltasse força para respirar de outra forma. Era uma respiração preguiçosa, que embora não enchesse completamente o peito, era suficiente para mantê-lo vivo - assim como sua rotina, que também aparentemente lhe oportunizava somente isso: estar vivo.

Quis levantar para buscar um café, olhou diretamente para a porta como quem planeja uma ação primeiro com o pensamento, e naquele momento a silhueta de Mônica se atravessou em sua mente. Por poucos segundos, que pareceram infinitos, pode ver ela chegando perto do colchão que estava no chão, manhosa, sorridente e lentamente proferindo suas palavras preferidas: "fiz o café". Ela, tão logo disse isso, espreguiçou-se na direção de Nícolas e ele, agora de olhos fechados, quase que conseguiu sentir o cheiro que dela exalava, não sabendo distinguir naquele momento se era do último perfume doce que comprou ou mesmo daquele que usava no início do relacionamento.

Por poucos segundos, pode sentir o toque de Mônica no seu peito, sempre atento e leve, que tinha a capacidade de acalmar seu coração. Por poucos segundos, lembrou do beijo suave de Mônica, que sempre o convidava a ficar mais um pouco, que trazia uma ternura que há muito não experimentava.

De repente, abriu os olhos.

Mônica tinha vislumbrado só mais uma memória que tomou forma na realidade. Em um universo paralelo, Mônica fazia o café e deixava os olhos umedecerem por lembrar que era necessário preencher somente uma xícara. Depois de tudo, Mônica ainda sentia falta da careta e da risada que se seguiam depois das palavras preferidas de Nícolas: "fiz o café".







Compartilhar Google Plus

Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

Postagens Relacionadas

2 comentários :

  1. Sugiro ouvir a música "Lado vazio do sofá" (Rodrigo Alarcon)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa sugestão. "O que eu estou esperando?
      Por que eu corro atrás?
      Grande besteira
      Ela não volta mais"

      Excluir

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial