Quase, por quase um segundo.

Gostaria de entender onde estava com a cabeça a pessoa que inventou o tal do "pelo menos". Pior, esta pessoa, de alguma forma, acreditou seriamente que isso serviria de conforto/consolo para alguém que teria perdido um amor, ou mal começado um. Embora tenhamos pequenos segundos de racionalidade, onde conseguimos ver com outros olhos a situação, na maior parte do tempo passaremos nos questionando sobre o que teria sido, não sobre aquilo que foi até o presente momento. Quando sentimos falta, esquecemos dos momentos de silêncio em que queríamos anunciar nossa partida, esquecemos dos dias longos em que queríamos gritar para o outro: "venha comigo, por favor", mesmo quando que essa pergunta assustaria.
Você apareceu na minha vida como um domingo. Lento, sem pretensões e muito menos esperanças. E terminou sem eu saber, até agora, o que você realmente é. Seja domingo ou sexta-feira, o teu furacão me causou confusão.
Pergunto-me se foi o dia em que pegou na minha mão ou o dia em que dividiu comigo o teu passado. Pergunto-me se em algum momento você se perguntou se eu seria alguém diferente daquela Mônica que todos conhecem. Veja bem: você não tem ideia da profundidade da minha personalidade, e foi aí que talvez você tenha se enganado. Tentei relevar o teu interesse inicial quando descemos do mesmo carro e subimos para o teu apartamento. Ao entrar nele, despi-me de qualquer vergonha, de qualquer coisa que não fosse eu, na essência. Acreditava que a melhor forma de levar algo para frente seria te mostrando quem eu realmente sou, não o que se mostra nos bares das esquinas por aí.
Peguei na tua mão, acariciei o teu rosto e naquele momento eu senti que talvez as coisas seriam diferentes. Penso que isso aconteceu pelo fato de que você deixou que eu brincasse com os teus cabelos e um pouco com o teu passado. Queria que você se sentisse a vontade, seja para dizer o que um dia sentiu por alguém e, futuramente, o que poderia vir a sentir por mim. Nem que fosse raiva, eu queria que você confiasse no poder que a sinceridade exercia sobre mim. Teria, por certo, a minha admiração quando falasse a verdade. A gente passa tanto tempo sendo enganada que, na primeira oportunidade, urramos por honestidade.
Em menos tempo que eu realmente esperava, criei em ti algo que há tempos queria ter deixado para alguém: o meu olhar mais sincero. Não vou negar pra você, meu bem, o meu olhar, ao fim e ao cabo, foi o mais sincero. Naquelas noites frias e curtas em que eu te olhava e ria e você se questionava o porquê daquilo tudo, eu estava certamente deixando acontecer o pior. Aquilo que você, com certeza, não queria que acontecesse. Não nego que eu também não queria começar a olhar daquela forma carinhosa que inventei que te olhar, mas veja bem, isso aconteceu. Eu não pedi e você não impediu.
No entanto, o dia mais perigoso foi aquele em que você resolveu ficar até mais tarde, e eu te dei uma pista do que talvez estivesse prestes a acontecer. E você se assustou, eu sei que não é com tanta frequência que as pessoas preveem sentimentos. Peço desculpas por isso, mas há algumas coisas em que eu já tinha perdido a paciência durante todos esses quase-amores.

Embora consciente das minhas palavras, acabei esquecendo do que você queria. E talvez as palavras "eu não sou o tipo de mulher que você está procurando" tenham causado um impacto inesperado, seja para bem ou para mal. Mas você mudou, depois de eu ter dito o que você sabe muito bem, você sabia o que poderia acontecer se continuasse sendo quem você realmente é. E foi aí, então, que eu decidi que as coisas não poderiam continuar. Eu estava em um barco, remando sozinha, enquanto você deixava-se levar pela correnteza. Ah, eu sei que eu me arrisquei, eu sei que eu mal conheço você e todos os teus planos, mas eu sou assim: sou intensa e vivo no acelerador. Com você? Nos últimos meses, sim. Talvez porque por um tempo você me demonstrou mais confiança. Você deixou que eu invadisse teus lençóis, deixou que o nosso cheiro ficasse impregnado no teu travesseiro. O fato de você ter-se permitido nesse sentido afetou o meu inconsciente. Pena. Pena, mais ainda, que as cucas confusas não saibam amar, como diria Caio Fernando.

Sei que, ao menos por ora, eu acredito que você tenha sido algo. A minha intensidade não me permite entender até quando você permanecerá sendo algo, entende? Pode ser que daqui duas semanas o teu corpo seja mais importante para mim do que todo esse drama gerado desde quando você deixou nossas mãos se entrelaçarem. É questão de tempo, você mesmo disse.
Talvez sejamos diferentes, talvez o teu tipo de intensidade não seja o mesmo que o meu. Pior, talvez não tenha passado de um caso de algumas coisas. Como eu iria saber? Isso que quero que você tenha claro.

(...)
Ao mesmo tempo, nesse exato momento, talvez você esteja deixando pelos chãos do teu quarto fios de cabelo diferentes da cor e formato do meu. Talvez a chave do meu apartamento esteja jogada em um canto qualquer, que você só lembrará de jogar fora quando alguém que estiver ao teu lado perguntar de quem é: "Ah, meu bem, foi só um caso de alguns dias...".
Compartilhar Google Plus

Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

Postagens Relacionadas

0 comentários :

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial