Pretérito imperfeito.


Inicialmente, era um caso à parte. Concordava com o fato de que só o procuraria para tomar algumas cervejas, passar a noite em claro ou enlouquecer em qualquer bar por aí. Tanto que foram apenas alguns olhares que o fizeram, simultaneamente, deixar o bar e conhecerem-se por ali mesmo. Na porta do bar, perturbando a passagem de outras pessoas.
Bastaram algumas palavras, alguns risos e olhares demorados, para que toda a ruína começasse e chegasse até o ponto em que se encontra agora. Talvez fosse aqueles olhos castanhos, aquele cabelo bagunçado e aquela cara de quem pouco se importa com o amanhã, contanto que o hoje saia do controle. Ou talvez tenha sido a forma com que ele, da mesma forma que ela, não se importava com o fato de ocasionalmente se apaixonar. A diferença é que ele precisava de alguém, mas não queria se prender tão profundamente como fizera da última vez e acabara se machucando. Já ela, não queria precisar de ninguém. Estava feliz assim, tentando esquecer o amor antigo e usando de artifícios baratos que depois poderiam fazê-la se arrepender pelo resto do ano.

Sempre foi ligada a tudo que envolvesse sentimento, e foi nessa tecla que, sem querer, Alex tocou durante muito tempo. Como quem ainda cutuca a ferida, porque não agüenta o fato de vê-la escurecendo cada vez mais. Como quem fica com a meia sufocando o pé mesmo quando faz um calor de 30°C. Como quem insistia em enfileirar os livros em uma prateleira que não suporta mais nem pó.
Culpava-se o tempo todo por ter acreditado fielmente em cada palavra que ele proferia – que curiosamente contrariava todas as opiniões que tinha ouvido sobre ele até hoje. De certa forma, achava injusto que uma pessoa alegasse ser de um jeito e fosse de outro, e de um jeito que justamente corria o risco de corromper qualquer possibilidade do crescimento de uma paixão.

“Talvez ela gostasse dele, mesmo que ele tivesse caído na vida dela numa véspera de feriado qualquer em que a última coisa que ela queria era voltar para casa acompanhada.” Mas, seria justo cometer mais um deslize? Mal sabia ela que esse se comparava àqueles que acontecem justamente quando estamos lavando a calçada, na melhor das intenções. Ficamos tão irritados que simplesmente gritamos algum palavrão e o vizinho, que está varrendo o chão a alguns metros dali, franze o cenho e se pergunta o porquê de tanta raiva por apenas ter levado um tombo.
É assim que nos observam. Nos vêem caindo de amores por alguém e por fim decepcionando-se, de primeira controlam o riso para depois questionarem-se o porquê de tanto desespero.
A verdade é que a gente faz teatro pra tudo. Acorda, sai na rua, e em vez de caminharmos quase caindo, ainda mantemos a postura, apenas por que sabemos que os olhares que vão atirar em nós não serão os melhores. Mantemos o sorriso quando queremos, de verdade, é atirar uma maçã na parede e vê-la explodir. Mantemos uma cara séria quando o que queremos mesmo é abraçar alguém e chorar até os olhos não conseguirem mais abrirem. Ou, na mais extrema situação, que se compara ao que Mônica tinha sentido por Alex, a gente finge que não sente nada, que-vai-passar logo, mas no fundo, bem no fundo, tudo o que a gente queria era pegar uma bicicleta e bater na porta da pessoa, até ela sair de cara amarrada e desejar que você suma dali em 3 segundos.
Durante muito tempo Mônica levou essa situação de forma imatura e, vezenquando, ainda mantinha contato com Alex.
“Que teimosia, hum!”, pensava. Por fim as coisas continuariam da mesma forma, ela passaria os dias em branco lembrando-se de como as coisas poderiam ter sido diferente e pensando que, talvez, o acaso não seja tão gentil quanto foi no verão.
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Autor Reckless Serenade.

Como diria Gabito Nunes: "eu é que tenho mania de - uns chamam de dom, outros de doença psíquica, e eu gosto de conceber isso como um estilo de vida - romancear tudo."

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