Quando o viu, pensou em atirar as malas pra cima e entrar no ônibus de novo, nem que fosse pra se esconder no banheiro e ir para outra cidade. Qualquer coisa que impedisse ela de ter que falar com ele. Não por medo nem por falta de vontade. Mas porque sabia aonde tudo aquilo terminaria, sempre fora assim e o que ela mais odiava era saber que, mesmo depois de tanto tempo, o que ela sentia por ele ainda fervia. E queimada.
Mas não tinha o que fazer, ele estava ali, com uma mão apoiada na cintura e a outra ajeitando os óculos. Mônica respirou fundo e tentou simular um sorriso, talvez tenha saído um pouco idiota pelo fato de que ela tentava enxergar ele através das malas que estavam em seu colo.
_ E aí, Mônica! Veio passar um tempo em Lajeado?
_ É.. Mais ou menos.. Só até eu ir para a capital.
_ Quando tu vai? Eu vou depois de amanhã, se preferir, eu posso te levar.
_ Não, tudo bem, eu já vou comprar uma passagem agora.
_ Mônica, por favor..
_ Eu não sei. Faz um bom tempo que a gente não se fala, né? E além do mais, não quero te incomodar.
_ Tu não é um incômodo, garota.
Mônica soltou um meio-sorriso e colocou as malas em cima de um banco, soltando um suspiro e apoiando as mãos nas costas, demonstrando certo cansaço. Eduardo fitou-a por alguns segundos e depois se propôs a levar as malas dela até o seu carro. Mônica negou, renegou e trenegou, mas ele insistiu que iria levá-la até o lugar onde ficaria naquela noite.
Minutos antes de saírem, Mônica pediu um tempo para fumar um cigarro. Eduardo, espantado, aceitou. Mônica se afastou do carro e encostou-se em uma árvore que se encontrava perto do estacionamento, acendeu o cigarro e suspirava a cada tragada. Quando olhava para o carro de Eduardo, o encontrava escorado na porta e fitando-a, de vez em quando soltando alguns risos. Mônica olhava para ele, tragava, olhava, tragava. Olhava para o céu, fechava os olhos e tinha vontade de sair dali, correr, fugir, qualquer coisa que justificasse sua loucura. Nem que para isso fosse preciso deixar as suas malas no carro dele.
_ Vai fumar mais quantos? – disse Eduardo, com certo tom de ironia.
_ Tem cotas para isso também? – disse ela.
_ Você que sabe. – disse ele, entrando no carro e ligando o rádio.
Mônica, naqueles poucos minutos em que gastou, pensara em tudo o que poderia fazer naquela noite e em tudo o que poderia se arrepender se fizesse. Era mais fácil fingir que não tinha acontecido nada durante todos esses anos e começar tudo de novo.
Acontece que sempre foi assim. E nunca começou-tudo-de-novo.
Eduardo ligou o carro e chamou-a. Mônica jogou o que tinha sobrado daquele cigarro quase que mastigado no chão e pisou-o, andou lentamente até o carro e, logo após sentar no banco, abriu a janela e tentou evitar olhar para ele.
_ E aí, quer dar mais uma volta ou quer que eu te leve pr’aonde tu precisa ficar?
_ Segunda opção.
_ Tudo bem, posso pegar umas cervejas antes?
Mônica aceitou e até tomou algumas com ele. Chegaram na frente do Hotel Imperatriz e Eduardo demorava para deixá-la sair, pois buscava assuntos aleatórios e tentava abraçá-la a todo momento.
_ Tu vai comigo pra Porto Alegre depois de amanhã?
_ Eduardo... Eu já te disse.
_ É só uma carona, Mônica.
_ Tudo bem, eu vou pensar.
_ Pode deixar que eu te ligo amanhã?
_ Desde que o teu amanhã não seja mês que vem, estou de acordo.
Eduardo deu de ombros e encostou o antebraço no banco em que ela estava sentada.
_ Tudo bem. Deixa eu te ajudar a tirar as malas.
Eduardo e Mônica saíram do carro e ele ajudou-a a levar as bagagens até a porta do Hotel. Quando chegaram, Eduardo soltou as malas no chão e a abraçou.
Mesmo que tentasse impedir, Mônica suspirou e o abraçou forte. Ainda sentia falta daquele cheiro de roupa lavada e daquele perfume marcante, mas sabia que se ficasse mais um pouco, a história continuaria.
Eduardo deu um beijo demorado no rosto dela e pediu para que tomasse cuidado, pois a cidade em que ela estava não era a mesma pequena em que eles moravam. Mônica abaixou a cabeça e disse o mesmo. Eduardo sorriu e desceu as três escadas da frente do hotel.
Mônica sem demorar muito pegou suas bagagens e entrou no hotel.
Talvez no dia seguinte ele fizesse o que nunca fez, mas de uma coisa ela tinha certeza: Quando ele ligasse, ela já estaria em Porto Alegre.
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